Tuesday, January 13, 2009

Jantar no indiano

A minha miúda gosta de comida indiana. Ali para os lados da minha casa há um restaurante goês, o que para o palato luso resulta no mesmo – as cenas sabem a caril e são picantes, o arroz é basmathi e os pratos na ementa têm números e anotações (“medium hot”, “hot” e “very hot!”).
Eu não falo muito de bola com a minha miúda. Lamentavelmente – e isto custa-me um pouco admitir – é do sportém. Não que ela ligue ao futebol. Nada por aí além. Mas quando no ano passado fomos eliminados da taça pelos mijadinhos (ainda estou para saber o que aconteceu ali), mandou-me várias mensagens em que demonstrava possuir, afinal e em segredo, amplas noções de sportinguismo (nunca esquecerei a frase “vais ter de te ajoelhar, eu subjuguei-te”).
Estávamos, eu e ela, de volta da carta de vinhos do restaurante goês - as opções eram escassas e absolutamente sobrevalorizadas: Monte Velho a 12 euros ou Periquita a 9?! Valha-me Shiva... – quando escutámos o gerente e o cozinheiro a falar sobre o Benfica. “Quero Periquita”, disse ela “é tão mau como o outro e é mais barato”. As mulheres são pragmáticas. “Quiquéfrô tem culpa... não mexe bem equipa. Equipa não tem... estratégia. Ataque, pouco. Defensa, fraco. Médio campistas, só um joga, outros olha” disse o cozinheiro, ao que o gerente replicou, num português mais de Lisboa do que de Goa “e que culpa tem o Quiquer que uns joguem e outros olhem? Olha que essa é boa...” O treinador do Benfica devia ser mulher. Os jogadores necessitam de ensinamentos pragmáticos – e, sobretudo, que os ensinem a ser pragmáticos. “Era uma de Periquita, por favor”. As mulheres são muito persuasivas quando querem. Explicam-se muito bem. “O Quiquer é o vosso treinador, não é?” “É, bebé... Quique. Quique Flores” “Hum... Quiquer é um nome meio ridículo” “Quique... De Henrique. É diminutivo...” “Onde é que já se viu um treinador com nome artístico que é diminutivo...” As mulheres são muito cruéis quando podem. “Oh bebé... tens o caso do Mourinho...” “O Mourinho?... É diminutivo?” “Então... claro.... Mour... inho. O nome é Mouro” “Ah... não sabia” As mulheres são domesticáveis. À primeira, pode não parecer... É uma questão de tacto e de timing. Mas, sobretudo, de savoir faire. Ficou convencida. “Más Quiquéfrô escolhe jogador, logo, culpa de ele...” A minha miúda aqui olhou-me e sorriu, como quem diz “faz sentido”. E o gerente “não se pode culpá-lo de tudo... Tens as arbitragens, umas quantas foram um roubo... Tens gajos que falham penalties... Tens gajos que dão frangos... Há imponderáveis dentro das quatro linhas, Rasheed”. O gerente rejubilou com a aplicação certeira do termo académico “imponderáveis”. E repetiu-se, num tom mais ligeiro e um pouco menos sonoro “no futebol... é isto... há muito imponderável...”. Alheou-se em seguida. Pôs-se a fazer contas. E eu “vês, bebé... há imponderáveis...” Ela riu. Eu sorri. “Aquele Rasheed faz-me lembrar o Boloposte...” Ela não sabe quem é o Boloposte. Por isso, franziu a expressão e questionou “Quem?” “O Boloposte... é um gajo que escreve num... blogue... enfim” “Tu e os blogues... até de bola tens um blogue?” “Tenho dois...” Não comentou. Acho que fingiu não ouvir. “Im... pon... dérávér...” repetia Rasheed enquanto cortava um pimento “Im... pon... dérávér...

Monday, January 12, 2009

So… How does it feel?

Como diriam aquelas brazucas muito pop-pastilha-elástica, cansei de ser sério. Então? Que tal a sensação de fazer tudo para ganhar e ver a vitória barrada pela asnice dos árbitros? Que tal ver um jogo ser ganho noutro estádio graças ao apito “equivocado” de um outro árbitro? É normal, não é? Tão normal quanto as vitórias que sonegaram ao Benfica contra o Nacional e o Vitória de Setúbal. Se há coisa que hoje nos vale é uma noção inabalável: há igualdade de critérios – tão depressa nos entalam como nos levam ao colo... Calha a todos.