Saturday, March 29, 2008

Lições de Oftalmologia


Eu penso que percebo muito de oftalmologia. Conheço a obra de Galeno, Guy de Chauliac, John Yperman. Sorvi o trabalho de Roger Bacon. Li três vezes o fabuloso ‘Anatomia, Fisiologia e Patologia do Olho Humano’ de Ted Montgomery.

E é claro que não sou médico. Nunca vi um deslocamento da retina, muito menos tive um hifema entre mãos. Pelo menos ao vivo, já que o ‘Atlas de Oftalmologia’ de Hertle é bastante pormenorizado e a sua a edição a cores e em font platino lynotype é bastante completa e uma autêntica obra de arte.

Aliás, nem sequer estudei medicina. O mais perto que estive foi no 9º ano, em que tinha a opção de ‘Saúde’. Tirei ‘3’ no fim do ano, para passar à rasquinha. Mas isso não é problema: Conheço muitos médicos e falo muito sobre o assunto. Quando vou ao café com a minha mãe ou faço um mandado á mercearia do Aníbal, todas as pessoas se juntam à minha volta para me ouvir falar do leucoma corneano, nas causas da hipermetropia ou sobre as características do epitélio. Muita gente gosta de me ouvir, perguntam-me coisas sobre a ‘menina do olho’, falam-me da vista cansada ou mostram-me como os óculos estão tortos.

E eu tento dar sempre a minha opinião a toda a gente: Faço diagnósticos, aconselho tratamentos, até faço prescrições para aviarem no António que nunca pede receita médica. No fundo, faço o mesmo que o Luís Freitas Lobo: Também nunca jogou à bola, nunca sentiu um pitão a rasgar o músculo recto anterior, nunca enfrentou a pressão de 50 mil sócios ansiosos por vitórias, nunca tirou nenhum curso sobre futebol, nunca ensaiou jogadas num treino e muito menos
teve que domar um balneário pejado de rufias sedentos da sua cabeça. Mas vê muitos jogos, fala com muita gente sobre futebol e nunca se inibe de dar o seu parecer doutoral, com enfeites de verdade absoluta. E usa expressões como ‘duplo pivot defensivo’, ‘transição defesa-ataque com condução de bola em posse’ ou ‘dinâmica posicional’ como se fossem termos retirados de um qualquer curso complicado de engenharia daqueles que demora anos a tirar no Técnico e que são o orgulho de qualquer mãe.

Luis Freitas Lobo descobriu o mesmo que eu: Com uma camisa da façonnable e expressões indecifráveis e fora do alcance da pessoa comum, podemos facilmente atrair um bando de pessoas atordoadas pela sonoridade das nossas palavras. É um fenómeno semelhante ao do flautista de Hamlin, aquele que enfeitiçava os ratos e os inocentes: Freitas Lobo crê que independentemente das imbecilidades que possa dizer, se as disser de uma forma bonita, credível e com ar de sacristão terá controlo sobre os pobres de espírito, toda a gente o vai idolatrar ao som de qualquer disparate e até, quem sabe, poderá um dia impressionar alguma miúda. Nem que a miúda seja lésbica, polícia em Sacavém e que goste que a tratem por Arnaldo.

Um conselho, Luís: É preciso ter cuidado quando falamos com quem sabe da coisa. Eu, por exemplo, aprendi que não posso perguntar a um médico porque é que não trata de uma membrana de Bowman através de fibras de colágeno e proteoglicanas. Porque esse médico, mesmo que
tenha dentes com coroa de ouro, use sapatos de vela brancos e os seus últimos 30 doentes tenham todos ficado cegos após a primeira consulta, é quase certo que me vai atirar à cara, sem modas e à frente de toda a gente, que as membranas de Bowman não têm a capacidade de se regenerar uma vez lesadas. Aprende, por isso, que se um treinador de futebol não colocou a sua equipa a jogar no sistema em que tu achas que devia jogar, terá seguramente bons argumentos e é capaz de te fazer passar por parvo diante dos teus amigos. E de milhares de telespectadores, já agora. Mesmo que esse treinador ainda use risca ao meio, demore entre 5 a 7 minutos a articular uma frase ou tenha colocado um suposto candidato ao título em 5º lugar no campeonato a quase 20 pontos do primeiro.

Por isso, aqui vai o segundo conselho: Vê o exemplo do Jorge Gabriel, ex-comentador e treinador do Arouca. Sim, Arouca.

De qualquer modo porque temos que ser uns para os outros, se um dia precisares ser operado a uma catarata, não hesites: Passa lá por casa que a gente trata disso ali na garagem num instantinho.

Wednesday, March 26, 2008

Aspirinas, Gurosan, Prozac e Litium

Meus caros, decidi fazer um esforço de análise do que falta do campeonato para ver o que poderá acontecer.

Claro que a bola é absolutamente redonda e isso de previsões são fantasias que por vezes batem certo com a realidade. Todavia, aplicando um mínimo de razão à desrazão do futebol, prevejo acontecimentos surpreendentes.

A tabela com a previsão de resultados explica-se por si só:

24ª Jornada 30-03-2008

2 Benfica x Paços de Ferreira 1

1 V. Guimarães x Marítimo 0

0 Naval x Sporting 2

1 V. Setúbal x Boavista 1

25ª Jornada 06-04-2008

0 Académica x V. Setúbal 1

2 Boavista x Benfica 0

1 P. Ferreira x V. Guimarães 1

1 Sporting x Sp. Braga 1

26ª Jornada 13-04-2008

1 V. Setúbal x FC Porto 1

3 Benfica x Académica 0

3 V. Guimarães x Boavista 2

2 Sporting x Leixões 0

27ª Jornada 20-04-2008

1 Belenenses x V. Setúbal 1

2 FC Porto x Benfica 0

0 Académica x V. Guimarães 1

1 U. Leiria x Sporting 3

28ª Jornada 27-04-2008

3 V. Setúbal x E. Amadora 0

2 Benfica x Belenenses 0

0 V. Guimarães x FC Porto 1

2 Sporting x Marítimo 1

29ª Jornada 04-05-2008

2 V. Setúbal x Leixões 1

0 E. Amadora x Benfica 4

2 Belenenses x V. Guimarães 2

0 P. Ferreira x Sporting 0

30ª Jornada 11-05-2008

1 Benfica x V. Setúbal 1

0 V. Guimarães x E. Amadora 0

2 Sporting x Boavista 1


Sim, claro é uma presunção, mas será assim tão irreal? Com estes resultados, a classificação seria a seguinte:


24

25

26

27

28

29

30

TT

Actuais

Final

Benfica

3

0

3

0

1

3

1

11

41

52

V.Guimarães

3

1

3

3

1

1

3

15

41

56

Sporting

3

1

3

3

3

1

3

17

37

54

V. Setúbal

1

3

1

1

3

3

1

13

37

50

Analisemos pois o raciocínio não pelos protagonistas mas pelos adversários:

clube

Boavista

4

FC Porto

3

Académica

3

Belenenses

3

E Amadora

3

P. Ferreira

3

Marítimo

2

Leixões

2

Naval

1

Leiria

1

Braga

1


O Boavista joga contra todos os potenciais candidatos e namora um lugar na UEFA. Tem uma 2ª volta muito positiva mas joga com Setúbal, Guimarães e Sporting fora, recebendo o Benfica. Como o Boavista tem demonstrado melhor desempenho em casa, é de supor a potencial vitória em casa e um empate com o Setúbal que está em perda(?), sofrendo derrotas com os outros dois competidores.

Outro concorrente que apenas não defronta o Sporting é o Porto. Com o campeonato no bolso e nenhuma outra competição interessante em vista, acredito que o plantel ainda rodará mais do que habitual. Julgo que será ponto de honra ganhar ao Benfica por questões de estatística Não acredito em facilitismos para os outros muito embora a rotação de jogadores possa trazer resultados interessantes para os outros adversários.

A Académica, em zona de perigo terá de lutar contra Guimarães e Setúbal em casa e Benfica fora. Acho que perderá todos sem apelo nem agravo.

O Belenenses, outro interessado na UEFA, com o Boavista a aproximar-se e o Setúbal ali tão perto vai tentar chegar-se à frente; recebe o Setúbal e Guimarães e vai à Luz. No domínio dos palpites, este é o de mais difícil configuração e a solução encontrada é o "não me comprometa": empate em todos.

Estrela da Amadora: joga fora com Guimarães e Setúbal e em casa com o Benfica. É o meu candidato à descida: perde os três jogos.

O Paços de Ferreira é outro dos imprevisíveis. Se começa a engatar os resultados ninguém o pára. Luta para não descer jogando na Luz e recebendo Guimarães e Sporting. Acho que o Benfica ganha e os outros empatam.

O Marítimo joga fora com Guimarães e Sporting. Perde os dois, mas temo que possa sair uma coisa tipo Belenenses.

Leixões. Joga fora com Setúbal e Sporting. Perde os dois.

Benfica e Setúbal jogam entre si um jogo que poderá ser decisivo e que coloquei como empate mas que poderá, mediante outras combinações de resultados, tornar-se muito mais condimentado.

Naval, Leiria e Braga jogam com o Sporting. Se a vitória com os dois primeiros é pacífica(!), presumo a perda de dois pontos em Braga. Este só não está no lote dos concorrentes à UEFA porque a recuperação não deve ir muito longe.



Vinhas

Thursday, March 20, 2008

O suspeito do costume

No plural, é este também o título de um grande filme realizado por Bryan Singer e que se conta em 3 ou 4 palavras (ok, em 34…): Após um crime, a polícia reúne, para identificação e interrogatório, um conjunto de suspeitos já habituais. Fartos de terem fama e pouco proveito, decidem então juntar-se para preparar um golpezito como forma de vingança.

Penso que não é difícil entendermos os pobres criminosos: Anda um tipo a dar no duro para ganhar a vida, a vender DVD’s piratas no Martim Moniz quando, volta e meia, a Judite o vem buscar pelas orelhas para ser interrogado ora por um assalto a uma bomba de gasolina, ora pelo roubo de um Multibanco ou então por ter enfiado dois bananos na cara do Rui Santos (neste caso não seria para o incriminar senão para lhe dar os parabéns). Parece que não, mas acaba por causar algum transtorno na vida de uma pessoa, para além de afastar alguma clientela. E de ficar incomodado a querer lixar bem esta gente da Judiciária, vai sempre um passo muito pequeno.

Por isso, e da mesma forma, terei que ser também compreensivo com o Zé Camacho: Vem um homem lá de longe, da terra dele, com a promessa de treinar uma equipa de nível mundial, quando se depara, afinal, com um chiqueiro cheio de Binyas, Andrés Dias, Zoros, Bergessios e Edcarlos. O homem até pode não ser nenhum génio da táctica (perto dele, eu sou o Mourinho), mas confesso que fiquei surpreendido por não se ter ido embora ao fim de um par de horas: Demonstrou compromisso, um estoicismo a toda a prova e uma bela dose de estupidez. No entanto, Zé Camacho rapidamente começou a ser chamado ao Tribunal da Luz onde sentia aquele dedo acusador, com a unha cheia de bedum. De cima, apenas o silêncio e uma ou outra alarvidade sobre a intriga à escala mundial que envolve o Benfica. No entanto, apesar de muitas vezes ter oscilado entre o mediano e o patético, lá se foi agarrando ao 2º lugar do campeonato, com dois avés marias à Virgen del Rosário e um pai-nosso ao Rui Costa.

Com as golas do seu estoicismo bem levantadas, Zé Camacho foi aguentando. Até que chegou o momento oportuno para servir a sua vingança: ‘Gastam 30 milhões de euros em Bergessios, Adus e Di Marias; depois de me deixarem sozinho no Departamento de Futebol, põem o Rui Costa a mandar em mim; temos uma equipa médica que devia abrir um talho e ainda assim sou o culpado? Então fiquem lá com o Chalana até ao fim da época’.

Zé Camacho, és um gajo lixado…

Wednesday, March 19, 2008

Nem tudo são más notícias...


Atentem bem no nome do primeiro classificado. É para que vejam que, apesar das divergências, este blogue até está bem representado lá fora...
A tabela foi mesmo gamada ao BnR-B. Desculpem lá...

Monday, March 17, 2008

Um pequeno desafio

Neste blogue, no terceiro post a contar de cima, se bem me recordo, há um vídeo que gostava que o Vinhas comentasse. Aliás, gostava que todos os defensores do futebol "paz, amor e harmonia" comentassem, porque aquela raiva que destilam contra o Bynia, o Katsouranis e afins é algo que muito admiro. Sendo vós religiosamente defensores e crentes de um e num futebol sem mácula, conto com um comentário sincero e virgem, que vos venha do fundo do coração.

Se, depois de verem esse vídeo, vos sobrar algum tempo livre, aconselho o visionamento deste outro. Não precisam de comentar também este, não quero maçar-vos com coisas de somenos, com mesquinharia de ressabiado que perdeu o campeonato, evidentemente. Fico à espera.

Thursday, March 13, 2008

Salir a perder

-Bons (7):
Quim, Rui Costa, Léo, Katsouranis, Cardozo, Rodríguez e David Luíz.

-Medianos (7):
Luisão, Nuno Gomes, Petit, Bynia, Butt, Mantorras e Moreira.

-Maus (ou muito maus ou anedóticos, nalguns caos) (10):
Maxi Pereira, Luís Filipe, Di Maria, Nélson, Edcarlos, Nuno Assis, Fábio Coentrão, Makukula, Bergessio e Andrés Diaz.

-Incógnitas (5):
Miguel Vítor, Freddy Adu, Sepsi, Romeu Ribeiro e Zoro.

Esta é a minha lista do plantel do Benfica 2007/2008, o "melhor dos últimos dez anos". Para começar, é um plantel de merda. Estou a ser muito directo, Vieira? Eu reformulo: no Vitória de Guimarães, seria um lote de jogadores razoável.

Do início, vá: num plantel competitivo, com aspirações a ombrear com um folcuporto, a nível nacional, e a dignificar o emblema, a nível internacional, a divisão dos jogadores deverá ser algo do género: 50%, valores seguros (dos quais se deve contar que 2 ou 3 saiam no final da época); uns 20%, podem ser experiências, incógnitas, sendo que daqui um ou dois poderão conquistar o seu lugar no plantel e o resto vai para a União de Leiria; os restantes 30% são as chamadas "segunda linha", jogadores medianos, incompletos, que desempenham um papel de "em último caso", "solução de recurso" ou "bidão de treino" - existem porque são baratos e dão jeito nas peladinhas. Portanto, temos uns 15 "titulares"; uma segunda linha "mediana" (não medíocre); e 4 ou 5 incógnitas que podem dar um ou dois coelhos de cartola.

O que temos nós no Benfica? Sete jogadores de alto rendimento; um deles, guarda-redes; outro em final de carreira; um em sub-rendimento, outro em final de contrato; mais um com a situação profissional indefinida. Sobra o David Luíz, que tem passado mais de metade da época lesionado. É muito pouco isto que temos, Vieira. Muito pouco. Na galeria dos medianos, também há valores seguros, mas, esta época, todos eles têm tido desempenhos muito fracos (os que têm tido algum desempenho) - faço uma ressalva a Bynia, que me tem surpreendido e que acredito que venha a ser um belíssimo centro-campista (talvez tenha sido o melhor investimento da época... o futuro o dirá).

Das incógnitas, fiquei bem impressionado com Sepsi, Adu e Zoro - este último tem, claramente, dois pontos fracos: massa muscular a mais e velocidade a menos; mas é um "patrão" da defesa, à antiga, sóbrio, duro no choque, imponente; os outros dois são muito jovens e cheios de atributos que, bem trabalhados, podem dar frutos. Míguel Vítor e Romeu Ribeiro... o primeiro, poderá permanecer, parece-me. O segundo, penso que não tem lugar num plantel "ideal".

Agora, tenham medo. Vem aí a galeria do susto. Uma equipa que consegue entrar em campo com Nélson, Edcarlos, Maxi Pereira e Makukula, em simultâneo, e aguentar quase oitenta minutos sem sofrer uma humilhação, merece o meu aplauso - os sete jogadores que restam, entenda-se. E ainda havia no banco o Luís Filipe. E ainda existe no plantel aquela coisa hedionda que responde pelo nome de Nuno Assis. E o Di Maria? Mas que coisa é aquela que demora 7 segundos a controlar uma bola, depois de dar quatro piruetas sobre si mesmo, de maneiras que, suspeito, chega a perder a noção de espaço e do próprio corpo? Os outros, foram despachados - a expressão "tarde de mais" não se aplica aqui: eles nunca deviam ter chegado a fazer parte do Benfica. Não. Tudo junto, é mau de mais.

Temos, portanto, que tudo o que se tem passado nos últimos meses (anos?) não passa de um gigantesco engano. Esta época foi um engano. As palermices que o palerma-chefe debita frequentemente são um engano. Estamos todos enganados. Saímos todos a perder. Nunca defendi Fernando Santos, mas, convenhamos, ser despedido à segunda jornada, depois de ter perdido nos últimos dias da pré-época dois jogadores que, neste plantel, seria "galácticos", é um golpe duro. De Camacho também se sabe que a táctica não é o seu forte, mas como pode exigir-se a um ser humano que faça de um monte de lixo uma equipa respeitável? Façamos um teste: vou elaborar uma equipa que é o "mal menor" (medo...). Na baliza, Quim (até aqui, está a correr muito bem); defesa esquerdo, Léo (boa!); defesa direito, Maxi Pereira (pronto, um a menos); centrais, David Luíz e Luisão (menos mau...); meio campo: Katsouranis, Bynia e Rui Costa (aceita-se, mas...); ataque, Rodríguez, Nuno Gomes e Cardozo (razoável...). Este é, de longe, o melhor onze para uma equipa que jogue com flexibilidade tanto em 4-4-2, 4-4-2 losango ou 4-3-3 quando se tem os jogadores que o Benfica possui. E agora pergunto: chega para um folcuporto? Para um Celtic? Para um... Getafe? Não chega. Jogar com menos um é sempre mau. Não ter alternativas é pior ainda. Não ter soluções aproxima-nos da falência do esquema de jogo. Há a inspiração - pois há, mas é só às vezes. Há a sorte e o azar - pois sim, mas os azares previnem-se e as sortes têm de ser aproveitadas. E há a burrice, a incompetência e a falta de planeamento, de estratégia. Há, sobretudo, um responsável: Luís Filipe Vieira. Sim, é contigo, pá. É contigo que estou a falar. Se precisares de conselhos, não dês ouvidos ao terceiro anel. Se precisares de sensatez nas contratações, não dês carta verde aos intermediários. Se precisares de reforços sérios e em conta, não prestes atenção aos empresários. Presta-me atenção a mim. Eu, que sou benfiquista e não sou parvo nem cego nem crente, sei do que é que o Benfica precisa. E, para começar, precisa de um presidente que, em vez da mania que é esperto, tenha consciência, sentido de responsabilidade e noção do que é este clube e das suas necessidades presentes, das suas carências, dos seus defeitos. Eu não preciso que me digas que somos o maior do mundo. Eu nem sequer preciso que sejamos os maiores do mundo, entendes? Eu preciso de entrar no meu estádio e sentir orgulho naqueles jogadores. E preciso de sentir que aqueles jogadores sentem orgulho na camisola que vestem e que são profissionais a sério, com as suas qualidades e o seu esforço, a lutar pelas dezenas de milhares que, todas as semanas, pagam para se desiludirem com aquilo que, supostamente, devia dar-lhes alegrias. Eu não quero a tua "máquina de ganhar". Eu não preciso que aniquiles o Pinto da Costa com apitos dourados. Eu nem sequer me incomodo com a rivalidade fora de prazo com os outros das riscas - Vieira, eu cago-me no sportém, acredita. Mas não te admito que faças do Benfica uma coisa qualquer, vulgar, sem nexo. Eu dispenso mesmo os teus discursos inflamados e gramaticalmente lamentáveis e as tuas aquisições de Eusébios (pobre senhor...) e Maradonas às dúzias. Eu exijo que sejas sério e decente. Não estou pedir por favor, repara. Estou a exigir.

Thursday, March 06, 2008

As derrotas morais

O Porto perdeu. Ingloriamente. Fez o possível para ganhar, jogou com a raça que se lhe reconhece. Mostrou ser melhor equipa, ter mais futebol, mas a bola não entrou quando necessário.

Perdeu e poderia ser bem pior se o árbitro sancionasse a defesa de Helton fora da área.

Ganhou quem fez o “futebol cínico”, expressão que os comentadores agora utilizam para classificar as equipas que se fecham atrás e só atacam pela certa, em incursões localizadas e programadas. O futebol “Tomahawk”.

Quem viu o Porto jogar não se pode sentir insatisfeito. Mostrou combatividade, espírito de luta, de equipa e uma concentração a que faltou somente a bola entrar.

Não chegou.

Na Europa, quem não concretiza as hipóteses de que dispõem não ganha e o Porto falhou três delas.

No entanto foi uma derrota moral porque Helton deveria ter sido expulso e jogando com 9 dificilmente manteríamos o resultado. Fucile foi mal expulso? Talvez. Mas foi a decisão arbitral com que tivemos de viver e não acredito que possamos assacar ao árbitro a derrota.

É neste contexto que se torna curioso o ocasional do futebol, geralmente associado às arbitragens. Como se um livro de regras tivesse avaliações diferentes, esperamos permissividade de um árbitro inglês, intransigência teutónica, rigor técnico italiano e…a condescendência equilibradora dos portugueses. As arbitragens são conotadas à origem do homem do apito. Daí a surpresa do comentador televisivo ao “excesso de intervenção” do árbitro que ontem esteve no Dragão. Era inglês, portanto, não devia assinalar tantas faltas.

Volto a questão. As regras não são as mesmas? Então para que diferenciar “estilos”? Arbitrar é cumprir o livro! Só.

Leva-me isso a caracterização que é feita às arbitragens e a forma como são avaliadas. Começo pelos comentadores e os termos. Primeiro é o desempenho. Avaliam a arbitragem como se de um exuberante artista se tratasse. Porque? Um árbitro, como o nome sugere não desenvolve uma performance artística. Um árbitro julga. Avalia e decide sobre ocorrências e faz cumprir as regras.

Como em toda a actividade humana existem erros e omissões. Então a avaliação de um árbitro será a diferença entre as decisões correctas e incorrectas, sendo que, das incorrectas há dois factores a identificar: do conjunto das incorrecções, quais e quantas influenciam decisivamente um resultado e se as decisões incorrectas tiveram lugar fruto de condições para além do controle do árbitro (posição em campo, clima, simulações etc.).

O que nunca poderemos induzir é que o erro por si só ditou o resultado: nunca poderemos saber e são duas discussões distintas e que é necessário, de uma vez por todas separar sob pena de continuarmos eternamente a arranjar desculpabilizações forçadas para os nossos fracassos.

O futebol é um vivência intensa mas momentânea que passa do agora para a memória e de lá só sai para sublimação e ritualização, como um cerimonial mítico.

O máximo que podemos exigir é que os erros, quando repetidos ad nauseum deveriam obrigar a uma ponderação sobre a capacidade deste ou daquele dirigir qualquer jogo.

Contextualizando: a derrota do Porto, não reflectindo o que se passou no jogo.

O árbitro, apesar de globalmente decidir de forma positiva, teve duas decisões que poderiam modificar o rumo do encontro: a defesa de Helton e a expulsão de Fucile. São erros graves que importa avaliar. Até porque tais erros numa final da Champions, por exemplo, dariam direito a que o árbitro fosse emparedado em betão.

Utilizando o mesmo critério para o clássico, entendo que a vitimização já me chateia. A única razão que assiste ao SCP é a “tontice” da nomeação (a não ser que queiram já começar com a conversa de que o futebol está podre e que os benfiquistas dão pequenas águias de ouro aos árbitros e arranjam uns casapianos ou pneus especiais para entreter os árbitros antes dos jogos).

Contextualizando: o empate no clássico reflectiu o que se passou no jogo.

O árbitro, apesar de globalmente decidir de forma positiva teve quatro decisões que poderiam modificar o rumo do encontro: a entrada de Katsouranis sobre J. Moutinho (sim, já sei que vão dizer que eu persigo o rapaz! Mas não tenho culpa de ele acertar em tudo o que se mexe! E mais do que o lance, a limpeza mediática da falta é de bradar aos céus!), a expulsão de Nelson, o falso canto que deu origem ao golo do Benfica e o penalti sobre Simon. São erros muito graves que importa avaliar. Até porque são recorrentes e deveriam impedir este árbitro de apitar.

Como consolo ao Sporting deixo estas palavras consoladoras:

"Obrigas-me fazer de uma Obra antiga uma nova... da parte de quem deve por todos ser julgado, julgar ele mesmo os outros, querer mudar a língua de um velho e conduzir à infância o mundo já envelhecido. Qual, de facto, o douto e mesmo o indouto que, desde que tiver nas mãos um exemplar, depois de o haver percorrido apenas uma vez, vendo que se acha em desacordo com o que está habituado a ler, não se ponha imediatamente a clamar que eu sou um sacrílego, um falsário, porque terei tido a audácia de acrescentar, substituir, corrigir alguma coisa nos antigos livros? (Meclamitans esse sacrilegum qui audeam aliquid in verteribus libris addere, mutare, corrigere). Um duplo motivo me consola desta acusação. O primeiro é que vós, que sois o soberano pontífice, me ordenais que o faça; o segundo é que a verdade não poderia existir em coisas que divergem, mesmo quando tivessem elas por si a aprovação dos maus".

Obras de São Jerónimo, edição dos Beneditinos, 1693, t. It. Col. 1425

Explico: São Jerónimo foi o tradutor da Vulgata, o texto bíblico original tal qual o conhecemos nos nossos dias mais coisa menos coisa. Os seus críticos acusam-no de vários tipos de adulteração (ordem dos textos, “adaptações” diversas para coincidir com as necessidades políticas do Concilio de Trento, etc.).

Vinhas