Tuesday, February 19, 2008

Um Domingo à noite no café do Chaves. Ou, as leis de Newton

Cheguei cedo para apanhar a melhor mesa, em frente àquele muro de pixeis que o homem lá tem em cima do armário com o napron de plástico a imitar renda branca. Cheguei tão cedo que ainda estava o Camacho a suar tanto que parecia que tinha chovido no relvado da Figueira da Foz.

Uns quantos minutos depois, senta-se na mesa ao lado o Pátrique, o filho do Manel Gibão, que veio lá da França nas vacances e foi obrigado a ficar por cá depois de emprenhar a prima. O Pátrique deve ser a primeira pessoa com estudos a entrar no café dos Chaves desde que veio cá um inspector da Judiciária à procura de um tal de Barranha.

- ‘Máj àquilu nu é fáltá?’, atira o moço mal se senta.
- ‘Épá, é, mas foi o Petit, o qué que queres?’, respondo-lhe eu com o óbvio.
- ‘Más éstê Petí, é muito brruto, devia ver maij amarrélos’
- ‘Pois é, pois é…’ (o que queriam que dissesse ao moço?)
- ‘I… i… i agórra êjto já é fáltá?’, atira o Pátrique ao ver o Assis cair sozinho, sem ninguém num raio de 10 metros. ’Ijto até vai contrra a lei da Inércia do Newton!’
- Ãh?
- ‘Na ausênzia de forrças, um corrpo permanéçe párrádo ou en muvimento unifórrme numa linha rrécta. É a prrimeirra lei de Newton, a lei da inérrcia'.
Precavido, já tinha encostado a garrafa de mini aos beiços. Abri os olhos fazendo-me de entendido enquanto bebia o ar da garrafa vazia, para dissimular a minha ignorância. Por castigo, fiquei com soluços.

- ‘EEEEEEEEEEEEEEEEh! Ejte pequenino cuáse nem toca no Cárrdozo, qué muito maij grrande e o Carrdozo parrecía que tinha çido attropéládo pur um caminhau. Parrece contrra a çegunda lei de Newton, que dij que a açelarraçau de um corrpo é dirrectament prroporrcionál à forrça qué actua sobrrésse corrpo. Se a forrça é pequenina, porque cai ele tanto?'
- ‘Pois, é assim…’, respondo-lhe eu sem olhar para a televisão, já com a garrafa vazia no ar, para pedir ao Chaves outra mini. ‘Ic’.

- ‘Epá!’, levanta-se novamente a voz, já todo excitado. ‘Comué qué puçível êjto? O Mákukula tein cuáse cein quíloj e o pequenino do Naval tein prráí 50 quíloj. O Makukula vein a correrr contrra o pequenino do Naval e é o Makukula que cai?
- ‘Na me digas que é a violação de outra lei do Niuton?’, pergunto-lhe eu.
- ‘Poij’ ri-se. ‘É a terrceirra. Se um corrpo aplica forrça sobrre outrro, recebe a forrça da mejma intensidad e no sentid opojte’.
- ‘Ouve lá, andou o tê pai a gastar uma pipa de massa a meter-te na escola pra isto? Tinhas aprendido mais nas obras!
Atão só agora é que te apercebeste que pode vir o Niuton, o Primeiro-Ministro ou o Papa, que na há nenhuma lei que se aplique ó Benfica? Esse Niuton devia era ficar lá pelo Levanta-te e Ri... Ic!’

Friday, February 15, 2008

A irmandade

Primeiro foi o Meszaros, com aquela bigodaça aquilina e aquele ar de Genghis Khan que degolaria quem se aproximasse do seu meio-campo. Vieram outros: O Jordão a jogar em biquinhos de pés, o Manel que enfiou 4 na baliza do Bento naquele Santo Dia e o Litos com o seu génio. Intermitente, mas génio. Depois veio o Douglas com o seu ar de rufia com os peúgos no chão e mais tarde o imperial Stan Valckx, até chegarem o Chefe Barbosa e mais tarde o Duscher e o Beto Acosta.

O futebol cria ídolos, é a sua vocação natural. Os arrumadores choram por Óscar Cardozo, os irmãos Cavaco idolatram Bruno Alves e o pessoal do Trumps suspira por Miguel Veloso.

Vukcevic ainda só agora chegou, tem ainda muito que mostrar e ainda não é, naturalmente, uma referência como os outros foram para mim. Mas tem uma coisa com a qual me identifico pessoalmente: Não, não partilhamos o ar entroncado e sem pescoço; o seu servo-croata será ligeiramente melhor que o meu mas seguramente que não sabe fazer um bacalhau á Zé do pipo daqui, ó; poderá ter mais jeito com o pé esquerdo, mas eu ganho-lhe na imitação do Jorge Fernando a cantar o ‘Umbádá’; e felizmente que eu não tenho nenhum sinal gordo espetado na bochecha. Mas quando faço uma luxação no ombro depois de um pontapé no ar, a mais de um metro do chão, também a primeira coisa que faço é tentar enfiar o braço à bruta no sítio. E quem já o fez sabe que isto é daquelas coisas que criam afinidade, que aproximam as pessoas: Será semelhante ao sentimento unificador que partilham todos os fumadores de cachimbos, os accionistas do BCP ou os maçons. Da próxima vez que vir o Vukcevic, vou-lhe dar um abraço e ensinar-lhe o aperto de mão secreto das pessoas que tentam enfiar o úmero sozinho no sítio quando se desencaixa. E talvez, se ele se portar bem nos próximos jogos ensinar-lhe que para o voltar a meter no sítio basta rodar o pulso para cima e puxar o braço para fora no mesmo movimento. Encaixa direitinho. E depois vou sugerir à SAD para juntar um endireita à equipa médica, que aquele doutor gordo a dar puxões no ombro do rapaz não dá saúde a ninguém. Não fazer queixa à Associação das Pessoas com Luxações á Farta é uma sorte, que tenho para mim que é por culpa dele que o moço vai ficar 3 semanas de fora a ver o Tiuí aos pulinhos.

Da exibição da equipa não falo, que ainda estou de greve. Mas tu, Vuk… Dois golos, os rins dos suíços todos escangalhados e ainda por cima tentar enfiar sozinho o ombro no sítio? Vá rapaz, venham de lá esses ossos!

Wednesday, February 06, 2008

Esta época acabou. Vamos falar da próxima.

Penso que esta época deixou de ter interesse. Esta monótona. Um tédio. Apesar da luta para saber quem vai a UEFA poder ter ainda alguma animação, acaba por ser coisa pouca. Até os lugares de descida já estão em vias de decisão.

Joga-se mal futebol em 70% dos jogos, adeptos de clubes grandes desesperam-se com as prestações dos seus clubes. Nem os casos de arbitragem geram discussão (em que mundo estamos quando um golo em fora de jogo do Sporting x Porto não desperta sequer uma conversa acalorada! Não. Ninguém se incomodou!).

Quer tudo isto dizer que esta época já acabou. Vamos pois dedicarmo-nos à próxima com a promessa de ser mais excitante e competitiva.

Para já, no próximo ano teremos uma cerveja em lugar de casa de apostas. Já é uma mudança.

A Sagres liga vai trazer-nos novidades. Primeiro, os contratos nos estádios: como vão ser? A Superbock é uma exigência nacional, implantada em nas lojas dos trezentos de comida dos estádios. Como vai a sagres intrometer-se neste negócio? Vão-nos obrigar-nos a bebê-la? Dá desconto nos bilhetes? Isto não baixará o número de adeptos dos estádios. Se eu não gostar de Stout posso ser acusado de racismo?

Enfim, um problema da máxima importância que está a ser descurado por todos os adeptos do país e que deve ser acompanhado com a máxima atenção.

Segundo: a TVI vai continuar a ter o monopólio das transmissões em canal aberto. Lá vamos ter de aturar a seca das transmissões (os comentários já não se ouvem porque tira-se o som) dos 15 jogos do Benfica em casa contra os adversários teoricamente mais fracos a ver se pagam o povoamento do estádio vazio.

E depois a Sport tv a dar os resumos fatiados aos outros canais.

Cabe aqui um parágrafo especial sobre a Sport tv. Sou contra, não tenho, nem nunca terei um canal que monopoliza o futebol. É indigno. O futebol devia ser sempre em canal aberto. Isso sim seria serviço público! Cada canal comprava o seu jogo e a vida seguia. Ou então todos os canais transmitiam o mesmo jogo (não sei se isso é tecnicamente possível, mas adorava ter uma “visão comparada” dos clássicos. Poderia ser o momento mais alto da Comunicação Social portuguesa, melhor do que as visitas do Papa!).

Última nota: todos os jogos da Vitalis deveriam ser transmitidos em diferido nos dias de semana (1ª parte antes da novela, 2ª parte depois). Seriam os momentos de “family share”, passando o prime time para mais tarde, digamos, às 02h00/06h00.

O Domingo Desportivo (sei que o nome não é este, mas como a TVI passa o programa tão tarde e mete tanta publicidade pelo meio que acabo por ver os 30 minutos iniciais e …adormeço. Nunca chego a ver a apresentação do programa, por isso ainda estou com o título do antigo programa) passaria a ser transmitido às 20h de Domingo com os jogos que já tivessem acontecido. Os restantes passariam para o Domingo a seguir, ficando a jornada com uma semana de atraso.

Quanto aos clubes na próxima época, podemos começar a discutir algumas questões:

FCP: Quantos jogadores serão vendidos: dois ou três? No rol das saídas temos Quaresma, P.Assunção, B. Alves, Bosingwa, R. Meireles, Lucho. Conseguirá o Porto 50 milhões em duas vendas?

Com a saída destes como se reforçará o FCP? Prata da casa, jovens estrangeiros promissores?

SCP: Quantos jovens irá P. Bento lançar na próxima época e quantas contratações estranhas fará a SAD? Que cozinhado daí sairá? Resolvido o problema do passivo, poderão os sócios exigir o título? Isso será grave? Não será muita pressão?

SLB: Poderão os sócios remover o principal “empecilho” do clube? Se sim, quem poderá candidatar-se à Presidência, colocando os interesses do clube à frente dos seus? Quem substituirá Camacho? O Prof. Neca? Co Adriaanse? Se for este último, Nelson terá de cortar o cabelo ou ir embora?

Guimarães: Depois de ser delapidado pelos grandes que levarão 2/3 da actual equipa embora, e de serem eliminados na primeira fase da UEFA, como evitar não “bater no fundo” como acontece a estes clubes depois de uma época vitoriosa?

Braga: Conseguiremos nós saber, de facto, quantos jogadores tem o Braga? Poderão eles ter um comportamento normal e contratarem apenas 5/6 jogadores para que a equipa não pareça um hotel?

Com quantos jogadores com mais de 30 anos actuarão na próxima época? (Formula para ganhar o Braga: acelerar nos últimos 15 minutos).

Belenenses: Como fazer para que os azuis de Lisboa possam dar aquele passinho que falta para serem uma grande equipa? Compram-se sócios que cheguem para encher o estádio. O que fazer deste clube ambíguo pelo qual até tenho simpatia mas que nunca vai ser grande porque em Lisboa já há dois galos para um poleiro! Se fosse na América o Belenenses comprava o estádio de Leiria ou Aveiro e criavam o Cruz de Cristo Lis ou o Caravela-Moliceiro.

Setúbal: Até que ponto um atleta pode jogar recebendo pouco com bom resultado? O Setúbal poderá ser a mais promissora equipa do Sul se, ao vender os terrenos e criar um novo estádio saiba manter e desenvolver a sua relação com os sócios e região. O clube “Alentejo” poderá criar uma equipa coesa, mantendo o material humano de que dispõe? Poderá formar jovens se desenvolver a mística? Vá lá, Mourinho, dá uma mão ao Setúbal!

Vinhas