Tuesday, January 15, 2008

Com ferros e poções

Meyong. O nome diz tudo: deve ser estrangeiro ou assim. Regressou ao Belenenses como o bom filho e sobre si recaíram a esperança e a confiança. Com boas razões, pois Meyong já mostrou que, neste campeonato, pode ser de grande utilidade a um clube que luta para não descer. No caso, refiro-me ao Paços de Ferreira. Diz-se de certa justiça que ela pode ser poética. Ora aqui está a prova: depois de - injustamente, diga-se - o Belém ter ficado na primeira graças a um golpe de secretaria que despromoveu e praticamente arruinou o humilde Gil Vicente, fazendo famoso um jogador cuja qualidade, sinceramente, nem sequer sei se a possui ou não, eis que o tal estrangeiro com nome que diz tudo - e cuja qualidade está mais que provada - chega, vê, marca, festeja e vence, subtraindo, com toda a facilidade, 6 pontos ao clube pelo qual acabara de conquistar três (pensava ele). Quem com ferros mata... Se alguém aqui tem nomeado o Belenenses como "Gil Vicente" no jogo do Unreal Thing (já viram como faz sentido? Viram? A-ah!...), por esta hora arriscava-se a limpar, com a tranquilidade que falta ao Paulo Bento, o torneio dianabolcaótico. Este caos tem muito que se lhe diga, mas ninguém foi visionário o suficiente para imaginar que o feitiço fosse recair precisamente sobre o antigo feiticeiro. Eu ainda pensei no assunto, confesso... "ah, era giro que o Belém fosse o entalado". Acho que até comentei com a Helena. E é por isso que, caso o Belenenses acabe por descer de divisão com uma diferença inferior a 6 pontos para o 14.º classificado, eu terei todo o gosto em recolher metade do prémio inicialmente destinado ao "Gil Vicente" da época. Parece-me justo.

Agora que falei de ferros e mortes violentas, justiças e injustiças, fortes e fracos, ocorreu-me mais uma ideia excepcional e, portanto, vou continuar o texto. Isto era para parar aqui, mas aproveito e junto tudo na mesma leitura, escusam assim de cá voltar amanhã. A bruma bélica que ficou do parágrafo anterior faz-me lembrar o Benfica. Porquê? Porque me dá jeito para introduzir aqui uma excelente ideia que eu já usei, em tempos remotos, e que agora me preparo para reciclar. Vale a pena, acreditem. É uma ideia - eu acho que se diz "analogia", mas disso eu não percebo nada - em que o Benfica é uma espécie de aldeia gaulesa do Astérix e do Obélix. Nesses tempos idos, eu vi o Benfica como aquela coisa caótica que, graças a uma poção mágica, funcionava quando era preciso. Eu fiz de druida Panoramix e distribuí uma poção à base de dianabol por todos - menos por um, lá está, o pobre Obélix. A coisa até correu bem. Infelizmente, o Nuno Assis foi apanhado e o plano, que até era bem intencionado, acabou por abortar. Mas, ainda assim, ficaram as boas recordações de como um bando de desorganizados e irredutíveis benfiquistas conseguiram algumas conquistas, com o seu chefe em cima de um escudo a barafustar e a dizer "ahn" e a dar aos braços no seu jeito populista tão patusco, de bigode ao vento. Tudo isto, contra legiões disciplinadas, organizadas e fortes que possuíam, inclusivamente, umas coisas chamadas "planos".

Passou-se o tempo e eu, já sem dianabol para distribuir, olho para esse bando e reparo que, afinal, essas conquistas foram fruto do acaso, da inspiração do momento ou da extraordinária força de um certo Obélix que hoje (já nem tanto...) afiambra em romanos lá para os lados de Madrid. Na altura, esse pequeno que, certamente, um dia caiu num caldeirão de uma substância poderosa, aviava dois e três batalhões enquanto o resto da tribo coçava ociosamente a barriga e devorava javalis e se embebedava. Hoje, esse Obélix trocou o prazer de umas boas lambadas pelos sestércios da perdição e a sua antiga tribo continua a coçar a barriga e a fazer tudo o resto que fazia. A poção foi proibida e os métodos para levar de vencida o poderio romano são cada vez mais arcaicos. Teme-se que o império nos esmague. Apelo, assim, ao chefe da aldeia que entregue o escudo e o poder. Precisamos de uma estratégia que passe por algo mais do que um druida caquético e confuso, acompanhado por combatentes sem preparo e ilusões que são mais próprias do "temido" bardo do que de um verdadeiro líder. Essa melodia já não nos encanta. A poção tem de ser revista. E, não querendo abusar dos pedidos, que tal vender alguns dos menires que estão estacionados? Com os sestércios amealhados, compravam-se legionários a sério. E, para os comandar, alguém que percebesse a estratégia das guerras dos dias de hoje, em que a chapada de nada vale, por mais obélixes que tenhamos no campo de batalha. E, convenhamos, neste momento não temos nem um Astérix sem poção...

6 Comments:

At 2:41 PM, Blogger Efe said...

Onde é que arranjas dessa cena?... :)))

 
At 3:14 PM, Blogger Helena Henriques said...

Diz que leva zimbro, cortado com foice de ouro... pena que mais, não sei!

 
At 5:55 PM, Blogger Helena Henriques said...

Mas olha que o Obelix liliputiano também é bem esgalhado.

 
At 10:01 AM, Blogger Efe said...

É sim senhora.

 
At 12:26 PM, Blogger vinhas said...

Receita da Poção perdida:

Gotas do suor de Eusébio, dois dedos da luva preta do Alves, pelo de bigode de Veloso,o brinco do Chalana, saliva do Torres e uma lágrima de todos os que ajudaram a construir o estádio da Luz.
Faltam alguns ingredientes de outros tantos que mesmo um portista respeita como uma fotografia do Bento e as Águas do José.

 
At 3:30 PM, Blogger Diego Armés said...

Não será antes um brinco do Vitor Baptista?

 

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