Friday, November 30, 2007

Off-topic. Ou, como me borrifo para o clássico

Nunca tive paciência para treinadores. Desde os meus instantes iniciais de sportinguismo consciente que faço piretes (de forma digna e elegante, não de forma marrecamente dissimulada, como fazia o dirigente José Veiga em momentos de elevação), insulto e protesto contra os treinadores do Sporting. Foi assim com o uruguaio Gomes, com o fleumático Burkinshaw, com o falecido Morais e com tantos outros que, de forma corriqueira e usualmente infrutífera, tentavam fazer crer que seriam eles a carregar apoteoticamente o ceptro ostentado um dia pelo louco Allison.

Em vão.

O odor a inépcia é mais intenso que o cheiro a merda. E era vê-los tremer ao entrar na 10A, ao saberem que cada gesto, cada movimento e cada decisão seriam escrutinados e julgados pela exigente turba de Alvalade. Cada arritmia, cada engasgo, cada trago em seco, cada golo de baliza aberta falhado eram claros sinais de debilidade. E os fracos, pfff… os fracos, meus senhores, vão para o outro lado da segunda circular.

Isto da idade é um fenómeno engraçado: Sem darmos muito bem conta, de repente, apercebemo-nos que aqueles litros de cerveja todos afinal não escorreram pela urina e instalaram-se ali bem por cima do cinto; as rabanadas de vento começam a ser o maior inimigo daquela outrora gadelha que fazia inveja ao Jorge Jesus; vemo-nos a insistir, nos limites da violência física, para ficarmos enterrados no sofá diante da televisão num domingo á tarde para ver o ‘EuroNico’ na RTP Memória; e até já somos capazes de ouvir uma música quase inteira da Filarmónica Gil. A idade exalta uma revolução interior, mas ao contrário.

Posso não saber se apachorrentei, se letargiei, se a ideade me tornou mais paciente, mas a verdade é que me vejo no desconhecido papel de apoiar o Pálbente, enquanto toda a gente à minha volta começa a opinar que se calhar já é tempo de pôr o homem a limpar o cacifo. Tudo por causa da ‘crise desportiva do Sporting’, dos maus resultados, de não vermos melhoras, da equipa jogar quase tão mal como o Benfica mas com o inconveniente de marcar muito menos golos estúpidos, blá blá blá.

Não sei muito bem como se faz, portanto desculpem lá a minha falta de experiência nisto, mas vou tentar defender um treinador de futebol (as minhas únicas investidas nesse sentido foram muito pouco convincentes e absolutamente inúteis pois tanto o Inácio como o Jozic acabaram rapidamente no olho da rua): Ora eu não acredito na desaprendizagem. Acredito na estagnação, no conformismo e na incompetência. E na filha-da-putice. E penso que o Pálbente, não reúne nenhum destes requisitos para lhe darem corda aos ténis.

Da mesma forma (e até por isso) como se assume a aposta nos jovens da academia como elemento chave na sua política desportiva, o Sporting decidiu investir num treinador sem nenhuma experiência de alto nível. Apesar de num clube como o Sporting se exigirem resultados, a aposta no Pálbente teve em conta (ou penso eu que terá tido) a necessidade de crescimento e de formação. O mesmo processo de amadurecimento que se deve facilitar aos miúdos e a protecção que lhes deve ser concedida, dentro dessa perspectiva de crescimento, deve ser proporcionado também ao treinador. Pálbente não passou por um processo evolutivo completo. A sua evolução está a acontecer agora.

E o Pálbente tem evoluído: Não é vulgar vê-lo insistir nos erros e mesmo a nível táctico tem demonstrado a flexibilidade que aquele cão d’água o acusava de não ter. Pálbente é, como uma pessoa inteligente, permeável sem ser despersonalizado, flexível sem ser banana. Exige, protege, enfrenta e ganha o respeito. E assume, dá a cara quando tem que dar, sem se queixar de ter uma equipa de apenas 9 jogadores.

Sejamos claros: O Sporting, com a venda/perda/deserção de 4 titulares e meio (o meio é o Alecsandro), mais o Carlos Martins - todos eles jogadores feitos, 5 deles internacionais pelos seus países - assumiu/ contraiu um risco. E a política de contratação mais não fez do que fazer escalar esse risco a níveis vertiginosos, com a contratação, para os seus lugares, de miúdos e refugo com poucas ou nenhumas provas dadas nem traquejo para estas andanças.

O treinador tem trabalhado a equipa, mudado esquemas tácticos, rodado jogadores, demonstrado ambição. Mas não é o treinador que define a política de contratação.

Também eu quero ganhar. Mas não acredito que mudar de treinador, apenas para mostrar insatisfação, seja alternativa. O PálBente poderá não ter a solução mágica, mas não é definitivamente o problema.


Espero que tenham gostado da forma magnânime com que caguei de alto para a champions, para as vitórias morais dos futuros campeões nacionais e, em breve, do Mundo e para os proféticos banhos de realidade dos que pensam que o Jesualdo Ferreira é um treinador de futebol. E sobretudo, como caguei de alto para o clássico. Como se tudo isto interessasse para alguma coisa…

Thursday, November 29, 2007

Os pecados veniais de Jesualdo

Nestas coisas da religião não se brinca! A vida é fácil para o pagão que só tem de se haver com o Inferno no final, depois de anos de gozo prazenteiro e maldades absolutas.

Para o pio, a vida é um inventário de tormentos, culpas e remorsos. A vida de quem tem os olhos voltados para um lugar no Paraíso e manter o santo comportamento e virtudes é, como o alcoolismo, um percurso diário de negação do prazer.

Corri hoje os olhos pelos blogs portistas para verificar como estava a azia. Nada. Ressabiados mas calmíssimos. Li diatribes sobre a qualidade do plantel, a falta de sorte, a arbitragem e sobre Jesualdo nada ou quase nada.

O homem goza de um estatuto de santo! Há, de facto portistas como eu que olham de lado para a sua reverendíssima pessoa. Todavia, seguindo a máxima do clube de que os problemas de casa resolvem-se em casa, deixamos entrever um comentário ou outro de desagrado, mas nada de frontalmente contestatário, não vá o castelo ruir.

Vejo muitos adeptos a dizer que a equipa tem seis/sete jogadores de qualidade (presumo que isso foi dito por MST na Bola) e o resto é mediano ou nem isso.

Estarei enganado ou Mourinho com um cozinhado menos homogéneo ganhou uma Champions e uma Taça UEFA?

Por acaso a equipa de Artur Jorge tinha um lote assim tão grande de jogadores de insuperável qualidade? Estou em crer que não.

Então, o que mudou?

O plantel é mais forte do que em épocas anteriores em termos globais. Existem jogadores que incompreensivelmente se mantém no plantel, mas isso são outras guerras. O fcp oferece condições de estabilidade e trabalho como ninguém em Portugal (não paga os salários mais altos, mas investe na projecção dos jogadores e é fácil terem mercado para outros clubes e salários mais elevados)

A vontade de ganhar suponho será a mesma. A filosofia do clube também. Não mudou presidente e o plantel continua, presume-se, a ter os tais 6/7 de qualidade como sempre teve. Então, digam lá, o que mudou?

Pode parecer leviano e recorrente pedir a cabeça do treinador (ainda para mais de um treinador que vai em 1º nas provas que participa) quando as coisas não correm bem (não é o caso).

O que é facto são as opções de risco (confundidas com rotatividade) que me deixam estarrecido; são as apostas que parecem de encomenda, deixando de lado outros de maior valor (só assim se compreende que Adriano tenha ficado em Portugal e aparecido o Postiga – uma espécie de Nuno Gomes do Porto!).

Só por pecado arrisca-se em Kaz, sem ritmo e ligação numa perspectiva de jogar com o “físico” (este não é o futebol português! Somos baixos, jogamos com os pés!) e insiste-se no Cech porque tinha de estar na “montra” neste jogo.

E assim andamos, endeusando Quaresma e desprezando Lucho, perdoando o “minino” pelas toneladas de leviandades que comete e afirmando que o argentino rende de 4 em 4 jogos!

O resultado de Liverpool é um alerta mais forte em relação a Amadora e ao Belenenses. Tratam-se dos pecados, veniais, mas que nos encaminham para o cruel destino do ímpio.

Ora, quanto a mim a diferença é Jesualdo, o pecador. Venial porque não quer ir para o Inferno nem consegue ganhar o Paraíso!

Não é o perder, nem sequer é o perder pelo resultado que foi! É o sentimento de que as orientações não dependem exclusivamente do treinador, de que há um clima de receio e restrição de opções e que a voz de comando se engasga no inexplicável (contra o Amadora não foram só os jogadores que adormeceram…) e atira para o campo o que é responsabilidade de todos.

Mourinho, em tempos, e depois de uma derrota em casa contra uma equipa grega (em que por acaso os jogadores foram aplaudidos de pé porque fizeram todo o possível por vencer) disse à cabeça: “Alguém vai ter de pagar!” (Acho que era o Belenenses na altura quem “pagou”).

Seria absurdo esperar isso de Jesualdo (até porque se trata do slb e seria leviano faze-lo). Mas não há nada no discurso que aponte para a penitência.

Vinhas

Poupar o adversário

Vêem? Percebem agora por que razão eu não tinha mencionado a Liga dos Campeões? Auch... deve ter doído...

Tuesday, November 27, 2007

Sistema nervoso: o stress

Quando o Dianabol começava a parecer-se com um consultório de psiquiatria, eis que chega a Helena e começa a falar das leis e das alterações e da FIFA e mais não sei quê, como se isto fosse um sítio onde as leis interessassem para alguma coisa. Toda a gente sabe que as leis aqui só servem para que o Férenc faça textos a queixar-se delas - ora porque não foram cumpridas, ora porque estão erradas, ora porque estão certas mas não costumam ser aplicadas e, "daquela" determinada vez, foram. Eu, que gosto muito de democracia mas não simpatizo com rebaldarias, venho pôr isto na ordem - e escusam de vir cá com "ah, não gostas das leis mas impões a ordem" porque a minha resposta é irrefutável: sim, é isso.
Voltemos às doenças dos nervos: o stress. O stress é uma cena que está na moda. Uma pessoa está sem dinheiro ao dia 15, perde 3 horas por dia à espera dos transportes públicos, odeia o trabalho que tem e é do sportém - diagnóstico: tem stress. Mas esta é apenas uma ilustração breve da coisa. Há mais exemplos: uma pessoa está em tribunal, mas ainda é presidente de um clube e ainda mexe cordelinhos e o Benfica começa a ganhar e o seu clube começa a não ganhar e o Benfica ganha com goleadas e o seu clube volta a não ganhar e assim em duas semanas derrapa quatro pontos e está quase a ir à Luz - diagnóstico: stress e, dizem, flatulência.
Ora, o stress é uma doença grave. Tal como a anorexia, mas disso falamos depois (ainda no outro dia vi uma reportagem, no Panorama BBC; aprendi imenso sobre o assunto). O stress pode matar, sobretudo se uma pessoa for muito nervosa e trabalhar com objectos bastante cortantes e compridos. Mas o stress faz mais: quando não mata, mói. Exemplos? A Helena. A Helena mói-me o juízo. A Helena apanhou stress no São Martinho. Provas disso? Eram seis da manhã já cá estava o texto a mandar vir por causa de duas ou três mensagens a mandar-lhe beijinhos, a desejar-lhe umas boas castanhas com água pé e, de caminho, a informá-la dos resultados do fim-de-semana - nada mais inocente. Claro, ela com o stress e com a água pé... aquilo lá lhe deu a volta ao estômago... Mas esse é um caso ligeiro do stress. Um caso bem mais grave é o do Sousa Tavares. Este nosso amigo - se bem se lembram, um grau 1 na escala antoniolímica (nunca é demais repetir a gradação da escala, de cima para baixo: 1: Miguel Sousa Tavares; 2: O António Lima, himself; 3: Rui Santos; 4: núcleo terrestre) - andava a esforçar-se por parecer uma pessoa serena e esclarecida. Até eu estranhei. Mas, claro, tudo tem uma explicação: se eu tivesse 8 pontos de vantagem, também conseguia dizer do meu rival que "é uma pena... xpto apresenta qualidades mas, ao que parece, a sorte não quer nada com ele e, já se sabe, os campeões também se fazem de sorte". Mas o Miguel - espero que não se importe que eu o trate assim, é que "Sousa Tavares" é comprido e chato... - também não escapou a este surto de stress. De há três semanas para cá, tem revelado o que de pior existe no seu íntimo, no seu êxtimo e no seu assim-assíntimo - segundo ouvi dizer, a compilação do 'pior de MST' está no seu último romance "histórico", O Rio das Flores, mas isso são outros quinhentinhos. Segundo o Miguel, o Benfica é o clube mais abençoadinho deste campeonato. Não contesto, cada um marra com a vaca de quem quiser. Mas há 4 pont... hu-hrum... há 4 semanas atrás, o Miguel achava que o Benfica não merecia estar tão distante do folcuporto - por falar nisso: o folcuporto tem ganho várias vezes pela margem mínima ou 2 diferença, sendo que o golo de arranque nasce, frequentemente, de um de três tipos de lance: bola ajeitada com a mão, lance em fora-de-jogo ou bola cruzada para lá da linha de fundo; além disto, os golos são invariavelmente marcados por Lizandro... Sorte? Há várias teorias e definições para esta "sorte". Mas o Sousa Tavares não fala delas, porque o Quaresma (uma espécie de Bynia que passa 90 minutos a tentar fazer trivelas...) é que sabe e faz a diferença - a sério, eu li: o Sousa Tavares acha que o Quaresma é o supra-sumo e teve o desplante de não incluir o Lucho numa pequena lista de jogadores que considerava de "nível internacional"... enfim. Há uns episódios atrás falou-se de bipolaridade e esquizfrenia. São más. Estas doenças são piores que bichos. Mas vejam bem o que o stress faz à saúde de uma pessoa: Miguel Sousa Tavares começa hoje por criticar a táctica do autocarro à crente da baliza que as equipas pequenas tanto praticam. Mais à frente, no ponto 3 da verborreia, escreve, aconselhando Jesualdo a propósito do excesso de sorte do Benfica: "faça tudo para ganhar até aos 85 minutos [e depois] mande recuar todos, todos os dez para dentro da área", acrescentando que se deve proibi-los de cometer faltas ou ceder lançamentos que, segundo o mestre, são os lances mais perigosos do Benfica (julgo que sim, que 37 dos 22 golos marcados - melhor ataque do campeonato - pelo Benfica surgiram a partir de lançamentos de linha lateral... bolas, mas o Bynia tem de ser sempre culpado em tudo?).
Como já ficou aqui bem demonstrado, o stress não é flor que se cheire e faz mal à saúde, desequilibra as pessoas. Por exemplo, desequilibra aquele organismo esquisito que a Liga tem para os assuntos da arbitragem. E, aqui, volto a pegar naqueles exemplos extremamente perigosos de pessoas que trabalham com objectos cortantes ou que ainda mexem cordelinhos. Porque, às vezes, uma pessoa pode enervar-se e tirar de jogo intempestivamente dois dos melhores árbitros portugueses da actualidade por "alegados" motivos muito duvidosos e com um motivo latente mais que justificativo para a exibição do cartão vermelho: não são do sistema - um é do sportém e o outro é do Benfica. Ora, o sistema, já se viu, anda nervoso. É natural que as reacções sejam, por vezes, impetuosas. E, tal como as entradas do Bynia, podem mandar uma pessoa para o estaleiro.
Eu podia continuar este texto por aí fora, os exemplos sucedem-se, está à vista de todos: o stress é pior que a sinusite. O Bruno Prata, aqui há uns dias, defendia, no Público, a teoria de que o Benfica estar um ano sem perder era coisa que não valia nada, PORQUE o folcuporto, mesmo perdendo, ganhava tudo. Pois sim, o argumento é válido. Porém, a preocupação em desvalorizar o facto - um ano sem perder - por comparação objectiva com o clube campeão, depois do chinfrim pelas 8 vitórias consecutivas deste último - que lhe dão vantagem, mas não lhe dão já as fitas - parece-me sintomático: o homem tem stress. Deve ter apanhado lá no Porto, aquilo é uma epidemia...

Monday, November 26, 2007

Referendo - uma contribuição para a teoria do sexteto

Ouvi um destes dias que o Presidente da UEFA tinha uma proposta em termos de arbitragem, e que tal proposta seria a de passar a ter dois árbitros de baliza. É verdade, as equipas de arbitragem passariam de três elementos - árbitro e dois assistentes, antigos fiscais de linha, cuja função é melhor apreciar o que se passa em cada área; basicamente foras-de-jogo, cantos e ... os penaltis é mais o árbitro - a cinco elementos, com os árbitros de baliza (seis com o antigo 4º árbitro que passaria a 6º). O 4º árbitro, cuja função é chatear os treinadores e respectivos bancos, o que me parece bem, não se tem uma visão privilegiada do jogo sem sofrimento, afinal, nós nas bancadas também sofremos e ainda pagamos para isso, logo é naturalmente imprescindível este 4º árbitro (ou sexto).

Avesso às tecnologias e chips, Platini quer que um árbitro em cada baliza fiscalize o momento máximo dos jogos - foi golo? Parece-me bem, afinal um chip à chuva pode avariar e é muito impessoal, não é quente, retira a emoção. No entanto há detalhes da proposta Platini que podem ser melhorados, senão vejamos:

A julgar pelo início do nosso campeonato, os jogos têm agora outra emoção, as Conferências, até porque a tecnologia em causa - neste caso os auscultadores - tem interferências e não se percebe nada, portanto há a necessidade de uma pequena conferência em campo, e se tanto presamos a democracia, é claro que os jogadores têm de dar o seu palpite, afinal, eles é que são os artistas e não é cá um trio pindérico (ou quinteto) que lhes retira o protagonismo.
Assim, cria-se um novo impasse, é que nós nas bancadas ficamos sem saber se havemos de ir buscar pipocas e cervejola, ou discutir entre nós, impotentes e involuntariamente afastados da emoção. E isto não acontecerá só por terras lusas, afinal este fim-de-semana vi uma conferência na Premierleague, sim, no jogo do Arsenal, vi o árbitro e uma série de jogadores por largos minutos a conferenciar - até porque pelo menos um deles queria defender o 'minino'... Nas bancadas secava-se, a pints bem sei, mas mesmo assim.

Posto isto, teremos em campo conferências cada vez mais abrangentes e democráticas, o que me parece bem, mas necessariamente demoradas e que nos deixam à seca. É aqui que eu tenho uma proposta, o referendo. Há lá coisa mais democrática, contemporânea e que solicite as novas tecnologias? E ainda dá rendimentos suplementares. Eu explico. Os estádios teriam pequenos terminais semelhantes ao do voto electrónico na AR - os espectadores poderiam responder se Sim ou Não foi (golo, penalti ou fora-de-jogo), a resposta apareceria nos placards do Estádio - se vinculativa (mais de 50% dos espectadores), o quinteto (ou sexteto, já não tenho a certeza) de arbitragem tinha de aceitar, caso contrário a decisão continuaria na sua alçada. Mas há mais, para evitar que os telespectadores apanhem seca, haveria um nº de telefone para onde enviar sms a avaliar o lance e até depois a sua decisão - tipo, se acha que o Dragão decidiu correctamente o penalti a favor do FCP por derrube dentro da área do jogador x pelo adversário y envie um sms para o nº xpto com a letra A....Estão a ver a ideia? E ainda dá empregos - não se despedem árbitros, até nem nos incomodamos se arranjarem mais alguns - toda a gente participa, diverte-se e contribui para a redistribuição da riqueza.

Monday, November 12, 2007

São bipolares, mesmo!

Tive um fim-de-semana sossegado, apesar de esperar que os jogadores do meu clube, pós vitória contra o Marselha, entrassem (e saíssem) displicentemente do jogo agendado para a Bwin - algo que se verificou, claro, e que, embora me irrite um bocado, é coisa a que sobrevivo bem, mesmo sem sintomas desagradáveis como azias ou outros distúrbios. Mas falávamos de sossego durante todo o fim-de-semana? Quase, quase - houve uma fase, pós jogo SLB Vs Boavista FC, em que o meu telemóvel começou a parecer-se com o meu despertador, não parava de receber mensagens alucinadas, ora com resultados de 9-1 (and counting), ora com promessa de cores que, podendo estar na moda, não se devem aplicar a nenhum humano, por não serem saudáveis. E isto, mesmo antes do meu vaticínio se verificar, começando com um "9-1 no marcador", fiquei espantada, ora em que jogo se verificava tal resultado? Que eu soubesse, o SLB não tinha ido a Vigo - acho até que nunca mais lá vão, parece-me que há 6 milhões de compatriotas que consideram essa cidade uma espécie de Alésia, ninguém sabe onde fica e estão até convencidos de que nunca existiu. A perplexidade perante a infrutífera busca de tal expressivo resultado fez com que perguntasse: Nove? Quem?
Era um fenómeno curioso cuja plenitude ocorreria apenas quando o FCP saísse do campo - e que ficou, portanto, em 11-3. Pois como os leitores já devem ter percebido, o fenómeno consiste em considerar como jogo único o jogo do nosso clube e os dos adversários, sendo que, os golos contra os adversários directos contam como nossos. Giro.
A coisa foi vivida com tal intensidade que, cheguei a pensar que tinham alterado as regras e que uma vitória por mais de 3 passava a ter um bónus na pontuação, passando a valer o dobro e quiçá mais uns 3 pontitos - seria? ahh, devia ser só a liderança do campeonato podia justificar tal dispêndio de sms's.

Mas fiquei a cismar, e ao cismar lembrei-me de um diálogo em que o mesmo cristão, me garantia que o Benfica ia trucidar o Celtic de Glasgow, para seguidamente vencer o Shakhtar e no embalo arrasar o AC Milan. Ora, nem dois dias depois, o primeiro vaticínio foi gorado, o clube até jogou bem, mas... nem sequer empatou, logo aconteceu o texto abaixo - fase depressiva? Certamente provocada pelo horror de perceber que até a Taça UEFA está cada vez mais longe.

Ora segundo a Wikipédia: "O distúrbio bipolar do humor, também conhecido como transtorno afetivo bipolar, é uma doença caracterizada por episódios repetidos de mania e depressão. Uma pessoa com transtorno bipolar está sujeita a episódios de extrema alegria, euforia e humor excessivamente elevado (hipomania ou mania) e também a episódios de humor muito baixo e desespero (depressão)." O tratamento passa por sais de lítio, portanto caríssimos, está explicado, esquizofrénico nada, são bipolar mesmo!

Por isso amigos e admiradores do Bardo aqui do Blogue, não se aflijam, isto bem controlado não é grave, acaba até por ser algo folclórico, eu sei que, mais coisa menos coisa, são 6 milhões, mas são algo inofensivos e podem até chegar a ser giros.

Wednesday, November 07, 2007

Esquizofrénico? Nós?!

Não é raro que me acusem de ser esquizofrénico ou bipolar. Trata-se de uma longa tradição. Eu próprio, desde pequeno, berrava com o meu outro eu, em frente ao espelho "seu maluquinho, xoné, tu tens dupla personalidade", ao que eu respondia "vou fazer queixas à minha mãe e à tua". Acabávamos frequentemente à porrada. Eu perdia sempre e a mãe dele castigava-me sempre só a mim. Os anos passaram e poucas coisas mudaram. A diferença é que, em vez de ser só eu contra mim, passei a ter em meu redor gente com caderninhos e seringas, nitidamente para tentar dar cabo de nós enlouquecendo-me, tudo numa teia conspirativa difícil de desmontar - ainda assim, tenha cá a minha teoria... Mais anos passaram e nunca mais passei pelos arredores do Miguel Bombarda. Há traumas difíceis de superar. Tirando isso, a vida corria-me bem e nunca mais ninguém nos chamou maluquinho. Isto, até deus se lembrar de fazer a Internet a partir de uma costela de uma figura mitológica qualquer chamada não sei quantos. Diz que, a dada altura, uma senhora muito mal intencionada pegou numa maçã, chamou-lhe MacIntosh e ofereceu-a ao comum dos mortais e aquilo tinha lá dentro pecados e outras cenas. A coisa não correu bem e apareceu a blogosfera e com ela os blogues de futebol e as tixas, chatas que não se pode, a vir comentar e a fazer textos sobre os benfiquistas como nós e a chamar-nos esquizofrénico e bipolar. Isto, o cosmos dá umas voltas esquisitas mas, no fundo, é tudo um movimento circular. Por mais caminhemos, vamos sempre dar ao mesmo sítio...

A questão, nos tempos que correm, é a seguinte: como é que querem que os benfiquistas não sejam atacados por oscilações drásticas de humor, alucinações ou ilusões de óptica? Dêem-me lítio!... Eu já nem falo do armário sul-americano que o Camacho arruma, cuidadosamente, na defesa adversária para que os centrais opositores possam jogar uma cartada enquanto vêem a bola. Diz que tem um pé muito bom. Pois sim, mas um armário com um único pé é coisa para não ter grande utilidade. Mas... o Bynia, por exemplo. Tem um grande pulmão, garra e joga simples. Isto, nos intervalos da ceifa, porque a sua actividade principal é arruinar carreiras aos adversários. Depois temos o Di Maria. Sim senhoras, um espanto de rapaz, elegante, bonito, sempre bem vestido. Que tem um pé esquerdo maravilho e que corre muito. Ora bem, isto a mim parece-me ideal para modelo da Nike. Não para extremo do Benfica. Pelo menos, enquanto não perceber que, ok, rematar a 30 metros da baliza pode ser uma coisa gira em situações muito específicas, mas não deve ser visto como uma estratégia para derrubar um adversário cujo guarda-redes ainda possui todos os membros em perfeitas condições de funcionamento. E o Camacho? Tão depressa é genial a mudar uma equipa que ficou reduzida a 10 elementos como a seguir é obtuso a correr atrás do prejuízo num jogo decisivo da Liga dos Campeões. Depois temos o Inominável... aquele ser que caminha lentamente pela lateral direita. Para que serve? Sabe deus. Mas acredito que Camacho um dia perceba o que realmente anda aquela pessoa a fazer ali, para um lado, para o outro, a olhar para as luzes, para as bandeirinhas, para os cachecóis... A Jodie Foster já interpretou uma personagem semelhante chamada Nell, que também não servia para nada. Depois temos o Quim, que salva o Benfica com golpes de rins em cima da linha e enterra o Benfica com saídas em falso. Temos o Benfica a ganhar e a perder e a ganhar e a perder e a ganhar e a perder... e o Rui Costa? O velho... ah, não, afinal o velho é o melhor do campeonato... err... ai, não... o Rui Costa afinal não tem pernas nem para meia-hora... e a Maria Amélia? É o melhor marcador do Benfica e do campeonato português ainda em actividade... pena que falhe sempre na cara do guarda-redes... mas depois salva-nos o pêlo em Leiria... e a seguir lesiona-se num aquecimento pela selecção... e o Luisão que varre tudo... e que falha na marcação e que corta de carrinho, in extremis, e que faz penalties estúpidos com os braços... e o Adu? O Adu, o novo Pelé... ah não, afinal não sabe jogar futebol europeu... ui, ah não, afinal o rapaz marca muitos golos e é o novo Mantorras... ah, não, não tem parafusos... ups, lítio lítio lítio, rápido, por favor...

Monday, November 05, 2007

Fusão

Ensonado mas a resistir em não abandonar o fim-de-semana prolongado dou comigo a ver a SIC notícias onde Rui Santos propunha algo de estranho: uma tal de fusão entre o Benfica e o Sporting.

Confesso que o sono não me permitiu reflectir com exactidão no alcance do projecto e só hoje de manhã comecei a pensar em que medida isto beneficia/prejudica os meus critérios:

1- O futebol português
2- O FCP
3- A competitividade
4- O desempenho estável da actividade

Analisando a primeira questão, acho que a perda histórica de dois clubes, dos seus passados e significado social não justificam a ideia.
Não se trata de fundir dois clubes de menor dimensão mas sim dois (sempre) potenciais candidatos ao título nacional.
A ideia que, com o somatório dos dois se faria um mega-clube não me parece verdadeira. Não se transportam só as virtudes: os defeitos também vêem incluídos. Juntar a formação leonina com os 6 milhões (audiência estimada do “Corrupção”) pode, por princípio, parecer interessante mas, se escavarmos mais fundo não seria tão aliciante.
Em primeiro lugar, para os históricos: o património vivo, os sócios da primeira hora, de todos os momentos, de uma vida. O que dizer-lhes ? É a globalização?!
Francamente! Estamos a falar de paixões, a única coisa que levamos para a cova!
Trata-se de uma questão relativa ao Ser (ser deste clube ou daquele…ninguém deixa de Ser por perder jogos, Taças, etc.). Não há nada de racional em Ser de um clube.

Depois, a história propriamente dita. Um clube fundido tem de “abandonar” os feitos passados porque são feitos, muitas vezes, contra o seu “parceiro”. Criamos algo sem passado e com um presente mais ou menos incerto.

Finalmente e ainda pensando no futebol nacional, compreendo a necessidade de fusão de outros emblemas (o Algarve podia juntar aquilo tudo num Sotavento Futebol Clube ou mais prosaicamente Allgarve Soccer Team), o Alentejo unido à volta do Sociedade Desportiva Templo de Diana, Trás-os-montes – qual Barça – unidos pelo Mirandês, mais as ilhas. Clubes que representassem regiões e servissem de mola económica, social e política ainda estou a ver mas, sinceramente parece-me absurdo criar o União Desportiva da 2ª Circular.


Do ponto de vista de um Dragão era positivo. Deixávamos de ter dois rivais, um clube fresquinho e cuja criação daria azo a milhares de hinos e piadas à volta da incapacidade dos dois, por si só, nos defrontarem e por aí a fora.
Deixávamos de ter receitas altas duas vezes ao ano para passar a apenas uma, mas isso acabava por não interessar uma vez que estaríamos sempre na Champions (mesmo com Jesualdo!).
Só tínhamos de ir uma vez a Lisboa (não sei ainda a que Estádio!) e a vida seguiria sem grandes sobressaltos.

Quanto a competitividade, penso que o FCP também lucraria porque nunca entraria na loucura dos planteis milionários deste “falso Real de Madrid”. Todos sabemos o calvário das equipas milionárias que não ganham títulos e não me parece que a soma de dois passivos, dois activos mais apoios do Estado (sim, que este clube dava votos e aguçava a presença de inúmeros “candidatos” a um lugar à direita do Senhor. Aliás, imagino que o camarote presidencial deste estádio (que deveria ter uma dimensão muito apreciável!) chegasse para garantir vitórias contra outras equipas que, inteligentemente, utilizam os recursos disponíveis de forma ajustada, obtendo bons resultados. E depois, a bola continuará a ser redonda…


Quanto ao “mundo futebol”, estas mega-empresas não me convencem. Não estou a ver os Manchesters a fundirem-se por maior que ficassem ou o Arsenal e o Chelsea (ideia bem mais tonta!) O Inter e a Juve dividem o mesmo estádio há quase 100 anos e nunca lhes deu para aí. Porquê? Porque já são grandes equipas que sabem que é a paixão das pessoas que os congrega, com ou sem títulos. A sua grandeza é a sua história, os seus adeptos e os jogadores que suaram a camisola por eles.
Isto só faria sentido se o SLB e o SCP não fossem grandes clubes, a não ser que não o sejam e eu estou enganado…

Vinhas

Thursday, November 01, 2007

O Deserto. Ou, o desafio de repensar a evolução.

Recordo-me da equipa campeã nacional de 81/82, onde apenas jogavam 2 estrangeiros, entre os quais aquele fantástico e Gengiskhanico húngaro de bigodaça de aço (sim, sou o génio da aliteração…), um verdadeiro pólo negativo de qualquer cautchú que tentasse chegar perto da baliza do Sporting.

Depois recordo-me do deserto. Daquele deserto inóspito e severo, no qual nos tivemos de arrastar durante 18 anos. Nem as esporádicas passagens pelo oásis menor de um par de taças serviram para atenuar o sofrimento e a secura de boca.

Recordo-me, no início de cada época, daquelas vãs esperanças que nos punham as palmas das mãos em ferida de tanto esfregar. E da desilusão que pouco a pouco se apoderava do nosso corpo e nos remetia para a resignação de uma história repetida.

Recordo-me, em particular, da pior fase da travessia: Aquela em que o sol está a pique e nos queima a moleirinha, aqueles finais dos anos 80 onde a esperança nos era tirada à nascença, sem nos alimentar a ilusão nem estimular a competitividade. Recordo-me do Peter Houtman e do Tony Sealy, do João Luis I e do João Luis II, do Lima e do Duílio, treinados pelo uruguaio Gomes e pelo bife Burkinshaw, autores principais do ‘Mito do Natal’. Recordo-me da revolta de ficar a 20 pontos do primeiro classificado e de penar para que acabasse o campeonato.

Hoje, noutros tempos, sem Amados nem ‘bigodes’, continuamos com tiques que evocam fantasmas antigos. Vou esclarecer: Pouco me importa estarmos a 9 pontos do FC Porto; No ano passado estivemos a 10 a 11 jornadas do fim. Não me preocupa estarmos atrás do Benfica; Apenas aqueles com palas não vêm que estes são mais débeis que um somalí desnutrído. Dou pouca importância à série de três jogos a perder pontos (Fátima, Roma e Nacional) tal como não embandeiro com a passagem à fase seguinte da menor Taça da Liga. O que me preocupa é pensar que nada disto (com excepção daquela parte de ‘estarmos atrás do Benfica’) é circunstancial. No fundo, temos um plantel desequilibrado, incapaz de responder á exigência de jogar contra uma equipa da Liga de Honra; temos investido em jogadores ainda sem maturidade para substituir as peças chave que saíram; temos um plantel que face á ausência de um ou dois jogadores não possui alternativas, como se viu contra a Roma; temos uma dependência na capacidade de miúdos de 19 e 20 anos que não admite as quebras inerentes a um processo natural de crescimento (de personalidade e de futebol). Temos o aborígene Ronny na lateral esquerda e o seu substituto é um obscuro perna-longa, que era segunda opção numa equipa mediana do campeonato russo.

O que me incomoda é ver esta consequente perda de capacidade competitiva da equipa. O que me incomoda é ver, dois meses depois do início da época, uma equipa que, mesmo com uma Supertaça já ganha contra o campeão nacional e ainda activa em 3 competições, parece ter perdido o brilho e a crença, uma equipa que em 80% do tempo é triste, não tem soluções, não tem ânimo nem confiança.

E por isso recordo-me, enquanto procuro o martelo de orelhas para deixar de me recordar, desses penosos finais dos anos 80, onde nos arrastávamos em campo à espera que o jogo terminasse, sem espírito nem estímulo.

Tinha ajudado muito um maior acerto na construção da equipa. Mas parece-me inegável agora que Paulo Bento precisa de tempo. O grande desafio do Sporting é construir uma equipa sólida a partir de um bando de gente onde poucos parecem já ter ganho o direito de vestir aquela camisola. A verdade é que bons resultados podem ir ofuscando as deficiências (como se verifica, em parte, no FCP), mas se tal não acontece é difícil pedir aos adeptos agora para gerirem as suas expectativas...



PS. Jorge Coroado, Antena 1, Vit.Setubal-Benfica para a Taça da Liga: ‘É sem dúvida penalty: O jogador do Benfica prende o jogador do Vitória de Setúbal pelo pescoço, apertando-lhe a zona do canal das migas.’ Perdeu-se um grande médico…