Tuesday, October 31, 2006

A Tradição é o que era?

Por respeito aos leitores, e sem grande entusiasmo, confesso, a tradição diz que devo escrever sobre o Porto – Benfica (vulgarmente conhecido como clássico – vá-se lá saber porquê, a própria tradição diz que, classe é o que por ali não há). E este ano, veio confirmar que a Tradição é o que era?
Começamos com a révanche dos bilhetes, seguimos com notas acerca do que o Presidente do Benfica leu, no tal dossier deixado por desconhecidos à porta de sua casa, e seguiríamos com mais picardias, não se desse o caso de, os dois treinadores, serem avessos a tais condimentos – tão úteis para inflamar as já de si explosivas claques. O Sportém colaborou empatando com o Beira-Mar no que, dizem, foi o melhor jogo da época. A imprensa fez a sua parte para que a tradição se cumprisse, colaborou na divulgação das tricas e não tricas e frustrada, deve estar a planejar, para a próxima, dar menos tempo de antena a estes treinadores – que sensaborões! À falta de melhor, a manchete do dia do jogo, nas televisões, é a ausência de vitórias do folcuporto no clássico – como diz???? – no Dragão completam timidamente, que isto é preciso é alegrar as hostes mais numerosas, as audiências, as audiências, sempre as audiências.
Chega a hora do jogo, e os media continuam a ver a vida a andar para trás (é que a tal tradição vende bem), apenas umas escaramuças, os adeptos gloriosos acabam por entrar sem cabeças partidas, nem arranhões, nada, só polícias e acho que nenhum se chamava Abel. Nem uma Carolina Salgado de braço dado com o tal Guarda, nem um postal de boas-vindas – será a tradição o que era?
No campo já há um golo, forte domínio do folcuporto, Quaresma, provavelmente inspirado pelo factor SD, tem um lance de encher o olho no 2º golo da equipa da casa. Grande entusiasmo nas hostes azuis e brancas – previa-se uma humilhante goleada aos visitantes, cujo banco estava à beira de um ataque de nervos. Mas o esférico é redondo e o Katsouranis teria acertado nele se, a perna direita do nº 10 do Porto não estivesse à frente do mesmo, morena, convidativa.
No calor dos acontecimentos, ninguém reparou que, ao meter o Raul Meireles, Jesualdo optara por duplicar essa posição, a tal da vanguarda do futebol moderno, o trinco – pois é, jogávamos com dois trincos - que raio de tradição esta? Incauta, ainda me alegrei com a saída do Paulo Jorge, pensando nos golos que se seguiriam - e seguiram, só que na nossa baliza. De facto, senhores trincos, se têm nojo da bola, porquê uma carreira no futebol?? O golo do empate, marcado pela Amelinha, já foi acompanhado por algo de encher olho: o Delegado Veiga, farto de tentar manter-se discreto, mostra aos adeptos do Porto o seu dedo médio. Bonito, agora sim, temos clássico! Mas, eis que, já em descontos o Bruno Moraes marca o golo da vitória caseira, vá-se a goleada fiquem os 3 pontinhos – Obrigada Jesualdo! Da próxima, talvez 3 trincos…
No rescaldo do clássico: a perna direita fracturada do Anderson, o dedo médio do José Veiga e a inédita vitória do folcuporto (no Dragão) – agora, peço aos leitores que me digam, a Tradição, é o que era?

Wednesday, October 25, 2006

Harmonia no futebol?! Que lindo...

Apesar das trocas de bocas entre as ex-comadres, ando com a impressão que, ultimamente, o futebol é um lugar pacífico. Ora, isso não está certo. E fico mais aflito ao pensar que posso ter algumas culpas no cartório - afinal, uma pessoa silenciosa e sossegada é, por norma, uma pessoa pacífica. Acabou-se o silêncio, aqui fica o meu contributo para a normalização da actividade futebolística nacional - inclua-se neste projecto da "normalização" o regresso da Naval ao 13.º lugar e do Boavista aos 14 cartões amarelos por jogo, agora que retornou à velha casa esse prodígio da estratégia, esse erudito do belo-desporto, Jaime "Terror" Pacheco. [N.A. Aproveito para saudar o correctíssimo posicionamento do Estrela da Amadora, logo desde a primeira jornada. A contratação do Daúto devolveu à tabela classificativa a sua configuração natural - se bem que, por motivos extra-futebol, o Estrela esteja impossibilitado este ano de conquistar o seu habitual 18.º lugar.]

Para começar: pouco me surpreendeu que, depois da xistrada de domingo à tarde, o nome eleito para conduzir o clássico do próximo sábado fosse o do nosso velho Lucílio Baptista. E, quando digo "conduzir", é mesmo porque "conduzir" é o termo correcto - peca eventualmente por ser escasso: acrescente-se-lhe talvez um "moldar" ou um mais profundo "construir". Temos, portanto, que o encontro será conduzido, moldado e construído pelo Lucílio. Aí está, tudo a voltar ao normal. Fica o aviso: bola benfiquista só dá golo se tocar na rede, antes disso é como se fosse linha; offside portista só dá apitadela se o jogador estiver no mesmo local há mais de 5 minutos; Pepe não tem braços, aquelas extremidades são apenas apêndices aos seus evoluídos dorsais; Quim pode usar as mãos, sim, mas uma de cada vez - o uso simultâneo dos punhos resultará na marcação de uma grande penalidade (ou mais, se for reincidente). Eu ia a dizer que me custa entender como é que um árbitro com o currículo sujo do Lucílio é nomeado para um jogo destes*, numa altura em que as suspeitas são mais que muitas e a agitação é praticamente catatónica. Porém, segurei os dedos a tempo e reformulei: compreendo perfeitamente esta nomeação. Há anos que a casa gasta do mesmo. E só não continuo com o chourinho porque não quero que me confundam com um tixa qualquer. Mas, como diria Octávio "Tragédia" Machado, vocês sabem do que eu estou a falar.

[ * "um jogo destes" (análise):
-Num campeonato que começou manco e aos repelões, com o Benfica com uma semana de atraso e uma interrupção da prova entre a 2.ª e a 3.ª jornada, prefiro fazer as contas não aos pontos que se ganharam mas antes ao sítio onde se perderam os pontos. Nesta perspectiva, o FC Porto é a equipa em vantagem - perdeu os pontos no sítio certo, nos confrontos directos e como visitante: 3 em Braga, 2 em Alvalade. Já o Benfica fez, como é seu uso, disparate. Perdeu 3 no Bessa - de forma humilhante e ante o mais fraco Boavista dos últimos 10 anos - e outros 2 em Paços de Ferreira num daqueles jogos típicos em que se passa da possibilidade de goleada a um deslize que pode custar um campeonato. Ou seja: o FC Porto ainda não gastou o seu plafond de escorregadelas com equipas pequenas, ao passo que o Benfica já lhe deu bom uso. Isto significa que se o Benfica não ganhar no Dragão, complica bastante as suas contas. Esta situação agrava-se ainda com outro detalhe: pelo que observei, este é um campeonato mais curto e menos competitivo lá na frente. As equipas pequenas parecem-me de novo pequenas, quando comparadas com as grandes - ao contrário do que se vinha passando nas últimas épocas, em que as diferenças se notavam cada vez menos. Logo, os confrontos directos - ainda mais num campeonato a 30 jornadas em vez de 34 - podem decidir o campeão.
-No banco de suplentes estarão dois treinadores que deixam dúvidas e inquietações: um que toda a gente admira mas que nunca ganhou nada; outro que já ganhou umas medalhas, mas que nunca ninguém respeitou. Olhando para a coisa e para a postura de um e de outro, dá-me vontade de dizer que aquele que os tiver no sítio se vai chegar à frente e desempatar a contenda. Espero que nenhum dos dois me desiluda - o Jesualdo, como se sabe, não os tem (pelo menos, no sítio); e o engenheiro, que de burrice e azelhice é farto, tem ar de quem pode ter nessa outra eventual fartura a sua rara qualidade. Um passo à frente, ó faxavor.
-A frente de ataque do Benfica tem sido frequente e ostensivamente atacada - pela comunicação social que, de 0 a 10, dá 4 à Amelinha se ele fizer um hat-trick; pela arbitragem, que construtivamente excluiu do clássico um jogador em grande forma; e pelo Petit que, com a sua ignorância acerca disso do "lance de ataque", se recusa simplesmente a "endossar o esférico" (que é como se diz no futebol) aos seus avançados. Acresce que me arrepia imaginar a possibilidade de ter uma dupla de avançados formada por Kikin e Amelinha no próximo sábado. Sugiro ao engenheiro que dê mais uma oportunidade a Karyaka: triângulo central com Petit, Katsouranis e o russo; a esquerda para Simão; Nuno Assis (doravante designado por "A Cuca") a vagabundar entre o centro do meio-campo atacante e a extrema-direita (salvo seja...), com Nelson (ou Alcides) a subir pelo flanco. A Amelinha fica lá à frente na sua habitual solidão e pode ser que faça o que o ano passado soube fazer. É só uma dica, engenheiro, só uma dica.]

Tuesday, October 24, 2006

Trinco ou não trinco? Eis a questão.

Falemos pois da única posição do futebol com verdadeiro alinhamento homógrafo: o Trinco.
Está um jogador muito bem a jogar a bola, a avançar pelo terreno a preparar o passe, o remate e aparece o Trinco.

Este nome, que bem poderia ser de um cão de raça, não é mais do que o termo para definir o tipo que não gosta/não sabe jogar. Trinco poderia ser o nome de um Bulldog, de um fila brazilia ou Pastor da Serra. O objectivo é igual: chegar às canelas do outro antes que este tenha tempo de fugir. Para ele, a bola é uma perda de tempo. Apenas um acessório do jogo, repelente e que deve ser despachada para longe e em qualquer direcção o mais rapidamente possível. O Trinco é um central frustrado por não ter altura suficiente (quando tem, não sabe jogar de cabeça!), o trinco não é um médio ala porque não sabe jogar com nenhum dos pés, não é, definitivamente, um número 10 porque estes gostam da bola e procuram-na em qualquer parte do campo. Não é um extremo porque este corre muito atrás da bola para enviá-la com um objectivo preciso e não é um homem de área porque as equipas tentam colocar a bola lá.
Deve ser por isso que quando se elogia um trinco é pelo seu “forte sentido posicional e de marcação”. Traduzindo: não precisas de procurar a bola desde que estejas à frente de um gajo que a vai receber.
Depois há a questão do aspecto: um trinco é um simulador. Tem o instinto assassino de um central mas um ar de quem está no jogo por acaso, que até não tem nada a ver com aquilo; bate sempre com aquela expressão de que foi um choque ocasional (e os árbitros vão na conversa porque, como eles não são grande coisa a jogar, é possível que seja verdade!).
E ele há treinadores que escalam as equipes com dois trincos! Porque este prazer masoquista de jogar com nove jogadores?
Um trinco é, por assim dizer, um fenómeno do Entroncamento. Quem criou o desporto não queria fazer um jogo com números redondos (10/15 jogadores) e lá inventou o décimo – primeiro homem: O Trinco.
Há excepções? Pois há, mas são poucas e nos tempos que correm…É dar uma vista de olhos nas equipes portuguesas.

Vinhas

Wednesday, October 18, 2006

Preocupação

Não. Alguma coisa aqui não está bem. Uma pessoa chega à secretária, acende a internet à espera de uma enxurrada de provocações, gozos, bocas e... vai-se a ver, nada. Tudo calmo, tudo sereno, tudo silencioso. Nem tripeiros, nem pastéis, nem lagartinhos. Anda tudo escondido. Pensem o que quiserem, mas isto a mim soa-me a emboscada... Pelo sim, pelo não, rezo para que Pizarro, Makaay, Santa Cruz e Podolski hoje venham de pé quente e biqueira certeira... E se o Schweinsteiger (confesso: fiz copy/paste) quiser fazer o jeitinho, também pode - já ouvi dizer que os seus remates se dão muito bem com o Ricardo.

Estar de azul e branco

O desafio é falar do Futebol Clube do Porto. A altura podia ser melhor, podia sim senhor. Mas a vida é assim. Desafiam-me numa altura em que a equipa vive uma crise - defesa fragilizada, ataque inócuo, meio campo confuso - temos o Anderson e o Raul Meireles, é verdade. O Anderson não pode levar a equipa às costas e o Meireles sozinho... Hoje joga-se contra o Hamburgo e é preciso ganhar. É possível ganhar, mas a fé está abalada, há que reconhece-lo. Ainda temos a cereja no topo deste bolo, Domingo defrontamos o sportém em Alvalade. O balneário apresenta sinais de indisciplina com o castigo do Bosingwa, e há o Quaresma. O Ricardo pode ser Quaresma, mas nós adeptos, é que calcorreamos a via dolorosa. São os períodos de formação do Ricardo, não defende, amua constantemente, comete faltas idiotas e... aqueles cruzamentos que podiam ser remates e os remates que deviam ter sido cruzamentos, tudo isto resulta em pontapé de baliza e no Ricardo com aquela expressão de... sofre-se muito (haja paciência!). Mas temos equipa, eu sei que temos!
Bem sei que iria desiludir os leitores destas paragens sulistas (não elitistas, suponho, ou eu não teria aqui lugar) se não falasse do duvidoso penalty contra o Marítimo, e não vou falar, o que querem mesmo é chegar ao assunto tão desejado: o Apito Dourado, tomemos o atalho. É coisa séria, suspeitas de corrupção desportiva, resultados falseados, enfim, um maná para adeptos dos clubes mais a sul, tão martirizados que foram pela ascensão do clube do norte, os tais soberbó-rurais, únicos penta-campeões nacionais, ora bolas. Trata-se de um processo que lembra outros importantes processos deste país dito de brandos costumes. Muito barulho, muita comunicação social, muitas escutas, fugas de informação (violações do segredo de justiça incluídas que, por sinal, são de per si crime) e depois? Nada, um Procurador-geral da República que geriu mal os silêncios e acabou queimado, acusações pouco procedentes e a certeza de que algo vai mal no aparelho judicial. Todos os envolvidos foram desacreditados - a começar no Ministério Público, continuando no poder político que não apenas não parece ter soluções, como ainda lhe sobra a suspeição de ser ele próprio corrupto, e terminando nos dirigentes desportivos - todos. Sim, todos. Ah, pois, sobra também a suspeição tão bem aproveitada pelas Gueixas-Vestais, espécie abundante neste pequeno rectângulo e espacialmente activas no plano da bola. Sempre prontas a atirar a primeira pedra, sempre ignorando os próprios telhados. É o sistema. E é triste, num país tão pequeno, o escândalo mor é o país não ser ainda mais pequeno. Há pessoas em Braga, no Porto, uns rurais, um horror. Não podem ser sérios nem esforçados. São rurais e aldrabões! E não, meus caros, não vou falar no caso Calabote. Pergunto a mim própria quem é mais provinciano, se nós rurais, ou se os tais cosmopolitas que não gostam nada de ver algo além das sete colinas. Termino com o lema do Porto, tão bem formulado pelo grande Pedroto: nunca virar a cara às dificuldades e lutar, lutar. Daí que, meus caros leitores, se correr bem e vencermos estes dois desafios (perfeitamente ao nosso alcance, por sinal), estarei feliz, se correr mal, estarei pronta para a próxima!

Thursday, October 12, 2006

Eusébio, o clone

Chegou a esta pequena e laboriosa redacção mais um texto de grande oportunidade do Vinhas, observador atento da geo-política da bola. Dá que pensar, ai dá, dá...



A derrota de Portugal na passada Quarta-Feira foi preparada nos tempos da Guerra-Fria. Corria o ano de 66, jogava-se o campeonato do Mundo em Inglaterra. A 28 de Julho, no jogo com a Rússia, Eusébio sente uma dor estranha durante a comemoração do seu golo. No entanto, como todo o atleta que sabe que o seu esforço e dedicação à selecção são mais importantes do que o sofrimento físico, rapidamente ignora a picada. Mal sabia Eusébio que essa pequena dor transformaria a história futura da selecção. A dor fora provocada por uma seringa que um jogador russo trazia nos calções e com a qual retirou um pouco de sangue ao Pantera Negra. A amostra foi levada para Cracóvia, para um laboratório secreto do KGB que se dedicava ao estudo dos genes. Objectivo: produzir atletas imbatíveis na dedicação, raça e velocidade, capazes de resistir a tudo de forma abnegada em prol da glória do seu país - Eusébio expressa (ainda hoje) estas qualidades, mesmo depois de ter abandonado os relvados. Iniciou-se todo um trabalho a nível genético para efectuar a clonagem. Dado que as ditaduras socialistas eram um pouco lentas, só em finais dos anos 70 se conseguiu fazer com que a experiência resultasse, subsistindo o problema de conseguir um Eusébio branco. Utilizando um cruzamento engenhoso entre Smolarek (pai) e Eusébio, nasceu Euzbius Smolarek!!
Se dúvidas existem sobre a veracidade desta história, reparem nos golos: o primeiro pleno de oportunidade, de um "homem de área", e o outro num remate que faz lembrar….

Vinhas

Tuesday, October 10, 2006

No Comments

Um leitor muito atento do Dianabol, de outros órgãos de informação, d'O Jogo, dos pasquins desportivos e até mesmo do Record alertou-me, e com dificuldade porque não conseguia parar de rir, para a capa deste último título com a data do dia de hoje.




Ainda não consegui perceber de que se ria ele... Se alguém encontrar por aí um exemplar do Record, por favor encaminhe para a redacção - reduzida, sim, mas muito trabalhadora - do Dianabol.

Monday, October 09, 2006

Futeborga

Chegou à redacção do Dianabol um texto acerca de um futuro não longínquo. Com a tomada de posse da nova direcção da Liga de Clubes a colocar o futuro da modalidade na ordem do dia, achei que a sua publicação é oportuna. Pede o autor que seja feito o seguinte aviso: qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

Ano de 2018. O caos grassa no futebol.
As competições internacionais paralisadas pelos contínuos escândalos e problemas organizativos no futebol inglês, português e italiano; a UEFA incapacitada de responder aos intermináveis apelos e reuniões com os dirigentes dos clubes desses campeonatos em permanentes protestos e quezílias que terminavam sempre “nas últimas consequências…”

A própria sede em Genebra, foi forçada a colocar uma máquina de senhas à entrada para disciplinar as constantes brigas no corredor de acesso ao gabinete do Sr. Blatter II.

O pobre homem já não sabia o que fazer. Para além destas confusões latinas (o drama maior até era a questão anglo-saxónica provocada pelos mesmos responsáveis: a proliferação de jogadores e técnicos portugueses, espanhóis e franceses que transformou um campeonato organizado, fleumático e rigoroso num jogo excêntrico, violento e neurótico). Ao que parece os únicos a ficarem satisfeitos com o caos do futebol foram os membros da família real britânica que desapareceu dos tablóides, muito por culpa da conversão destes em diários desportivos The Ball, The Game and The Record, novas designações do The Mirror, Star e o The news of the world. Além desta confusão os alemães e holandeses insistiam na introdução da electrónica no seu futebol através de projectos cada vez mais complexos da Philips, Grundig, Blaupunkt e mesmo o Bill Gates estava a calha para apresentar um software (que só corre em Windows naturalmente) denominado Protection Advisor for Referees Assessment Tool - Y Series (por favor, não liguem à sigla). Todos os sistemas provavam uma eficácia de 100%, desde que controladas pelos homens da UEFA.
Esta contestação, em vias de levar ao cancelamento das provas europeias obrigou Blatter II a tomar um decisão polémica, mas a única que permitiria salvar o futebol internacional (leia-se o seu futebol): excluir estes países das competições, banindo-os e proibindo-os inclusive de utilizar o termo futebol (marca entretanto registada pela FIFA).
Atónitos com a decisão, estes três países (a par de Andorra, Liechtenstein e Ilhas Faroe) revoltaram-se e criaram um novo jogo denominado Futeborga para Portugal, Fuckball para as Ilhas Britânicas e Camorracalcio em Itália.
Evidentemente, foi necessário proceder a uma série de alterações quer nas regras de jogo quer na organização desportiva dos campeonatos, que são actualmente objecto de profundo debate e do qual damos conta de alguns detalhes.

Organização do Futeborga

Liga:

  • Para pertencer a liga basta ter uma equipa, um presidente e um excelente departamento jurídico;
  • O número de equipas pode variar entre 8 ou 800, conforme os jogos de influência e a disponibilidade financeira;
  • Os resultados dos jogos só são confirmados no final do campeonato, após reunião entre todos os envolvidos. O que se passa em campo não interessa;
  • Dívidas, fugas ao fisco, contabilidade paralela não podem representar, em nenhuma circunstância, situação penalizadora dos resultados desportivos;
  • Uma equipa é constituída por um número indeterminado de jogadores que podem ser contratado à peça (um jogo, dois jogos, etc), para serviços específicos (só para jogar com o Sporting ou Benfica, por exemplo), serviços de marketing (venda de camisolas, sapatilhas, cortes de cabelo, etc) ou outro qualquer tipo de contrato. Isto permite a tão desejada (pelos beneficiários da globalização) uma mobilidade de mercado de forma que o mesmo jogador possa jogar por 15 a 20 clubes por época;
  • Os clubes não são responsáveis pelos actos dos atletas em campo e fora dele, não podendo ser prejudicados pelas atitudes destes (o que mexe logo com as leis do jogo, dado que, se um jogador violentamente fracturar um “colega” de profissão, o problema é dele e do colega, não podendo o mesmo ser expulso, apenas substituído);
  • Os atletas não são responsáveis civil e criminalmente pelas suas atitudes;
  • Os árbitros, dirigentes, pessoal técnico, enfim, todos os envolvidos no fenómeno desportivo do futeborga, não são responsáveis civil e criminalmente por coisa alguma;

Da organização da prova:

  • Os campeonatos deixam de ser organizados pelas federações e pelas ligas e passam a estar controlados por multinacionais;
  • Os campeonatos deixam de ter origem num país e passam a ser competições internacionais. Os clubes são seleccionados por convite (Por exemplo a Liga PT pode ter o Porto, o Corunha, o Gondomar e o Milan e a Liga Pirelli, o Bayern, o Leça, o Steua de Bucareste e o Chelsea);
  • Os prémios por vitória, empate e derrota (sim, há prémios para os derrotados e bónus especiais para quem não esteja sempre a contestar!) são estipulados pelos organizadores/empresas;
  • Nas camisolas haverá um pequeno espaço destinado ao emblema do clube, desde que não prejudique a exposição publicitária;
  • Os jogos serão todos transmitidos por cabo em regime pay per view podendo, em alguns dos casos haver lugar à venda de ingressos. Nos casos em que isso não se verifique, esta prevista a gravação multifónica de uma audiência, um pouco como as comédias americanas, onde eles colocam os espaços onde nos devemos rir;
  • Os campeonatos serão a duas voltas excepto para os clubes que fiquem muito longe do centro da Europa, devendo esses mudar a sua sede ou estádio (caso das equipas russas, bielorussas, estonianas, etc.). Esta medida não tem nada de especial, uma vez que se trata de povos que vão fornecer a futura mão-de-obra para a Europa Ocidental e, simultaneamente, permite aos jogadores entrarem no espaço da Comunidade para trabalhar na construção e nos hotéis.

Das regras do jogo:

  • Cada equipe é composta por 11 jogadores. O número de jogadores poderá variar durante o jogo;
  • As equipes são compostas por: um guarda-redes, divorciado até 35 anos que namora com apresentadora de televisão; 3 ou 4 defesas, dos quais um terá de ser ambientalista e o outro gay; 2 a 5 médios dos quais pelo menos 1/3 terá de pertencer a minorias raciais, religiosas ou provenientes de países do 3º Mundo (o velho problema das quotas); 2 a 4 avançados, em que um deles deverá ter hábitos ou dependência de drogas e outro preso por desacato público, assédio sexual ou violação.
  • Pelo menos 3/5 da equipa deve ser branca, 1/6 usar brincos, anéis ou pulseiras, 4/8 ser ardentemente religioso e 1 cientologista. Destes, 3/7 tem de ter no seu currículo um escândalo qualquer. Poderá haver alguns que joguem futebol.

Vinhas

Tuesday, October 03, 2006

Perplexidades verdes e brancas

Confesso que estranhei as reacções, no Dianabol, à minha sugestão da Taça Vice. O que eu sugeri foi uma peça muito mais chique que as fruteiras do 1º Lugar, toda a gente sabe que coisas demasiado vistosas não são chiques, e sempre tive os adeptos do Sporting como criaturas requintadas. E depois, sinceramente acho que a coisa devia ser premiada mesmo. Mas já que é assim, vou analisar friamente a forma de estar sportinguista.
Aparentemente, o Sporting é um clube que, no futebol, está a construir um palmarés notável de lugares “Vice”. E isto não é fácil, basta pensar que, não apenas não pode ser ultrapassado pelo terceiro, como ainda, não pode, de maneira alguma, ultrapassar o primeiro. Esta tarefa exige equilíbrios delicados, principalmente quando o plantel está bem fornecido, é preciso redobrar os cuidados, o perigo de ultrapassar o primeiro cresce de forma alarmante. Por outro lado, é um clube que aposta na formação, e as escolas do Sporting têm dado um contributo valioso ao futebol nacional. Daqui saíram nomes como Luís Figo, Simão Sabrosa (também conhecido entre os Leões como Anão Nojento, ignoro porquê), Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo – verdadeiros virtuosos -, enfim, importa salientar o trabalho da equipa em saber como despachar esta gente toda sem, por um lado, enriquecer os cofres do clube e por outro, não deixar que a equipa fique de tal maneira boa que vença a competição. Repare-se no palmarés do Luís Figo, um 2º lugar destacado, em que clube jogava? No Sporting, claro. Depois o Figo aburguesou-se, deixou a aristocracia e passou a conquistar taças, tendo hoje um palmarés invejável. Mas petulante. Poderia argumentar-se que isso corresponde aos tais ciclos de 30 anos dos clubes (ai, que o Porto só tem mais dez de auge), mas não, vejamos a história do clube. Vejam a complicação que foi integrar no plantel o argentino Yazalde, este jogador tem a impressionante marca de 46 golos em 30 jogos (isto no Campeonato de 73/74), claro que isto tinha de correr mal. Nesse ano o Sporting fez a dobradinha. No campo dos recordes o Sporting apresenta marcas interessantes: o recorde de golos marcados no campeonato 46/47, nada mais nada menos que 123 e… não ganhou o campeonato, tem o maior número de golos marcados num só jogo do campeonato pelo mesmo jogador, o Peyroteo marcou 9 golos contra o Leça em 41/42 (mais uma vez, prodígio, esse ano o Sporting não ganhou, o vencedor foi o Benfica). Poderia pensar-se que estes detalhes desagradam aos adeptos, mas não, revelam-se até de grande utilidade, dão-lhes um outro argumento de arremesso, as vitórias morais, por eles tão apreciadas, e que servem para atirar à cara dos outros adeptos afirmando o seu Sporting como impoluto – não têm lá os canecos, “mas deviam ter, houvesse justiça e honradez neste mundo”. Esta postura, que pode ser classificada como de Gueixa-Vestal, é extremamente eficaz, tira qualquer adepto dos "outros" do sério, afinal o golo nascido de falta claríssima da jornada anterior não interessa nada, verdadeira escandaleira é a mão do Rony. Quer dizer, nós, os "outros" somos parolos, aldrabões, batoteiros e ainda temos mau feitio. Aristocraticamente acima de tudo isto o Sporting continua o seu lema – branco pela paz e verde pela esperança – sim a esperança, vá alguém perceber este clube…