Apesar das trocas de bocas entre as ex-comadres, ando com a impressão que, ultimamente, o futebol é um lugar pacífico. Ora, isso não está certo. E fico mais aflito ao pensar que posso ter algumas culpas no cartório - afinal, uma pessoa silenciosa e sossegada é, por norma, uma pessoa pacífica. Acabou-se o silêncio, aqui fica o meu contributo para a normalização da actividade futebolística nacional - inclua-se neste projecto da "normalização" o regresso da Naval ao 13.º lugar e do Boavista aos 14 cartões amarelos por jogo, agora que retornou à velha casa esse prodígio da estratégia, esse erudito do belo-desporto, Jaime "Terror" Pacheco. [
N.A. Aproveito para saudar o correctíssimo posicionamento do Estrela da Amadora, logo desde a primeira jornada. A contratação do Daúto devolveu à tabela classificativa a sua configuração natural - se bem que, por motivos extra-futebol, o Estrela esteja impossibilitado este ano de conquistar o seu habitual 18.º lugar.]
Para começar: pouco me surpreendeu que, depois da xistrada de domingo à tarde, o nome eleito para conduzir o clássico do próximo sábado fosse o do nosso velho Lucílio Baptista. E, quando digo "conduzir", é mesmo porque "conduzir" é o termo correcto - peca eventualmente por ser escasso: acrescente-se-lhe talvez um "moldar" ou um mais profundo "construir". Temos, portanto, que o encontro será conduzido, moldado e construído pelo Lucílio. Aí está, tudo a voltar ao normal. Fica o aviso: bola benfiquista só dá golo se tocar na rede, antes disso é como se fosse linha; offside portista só dá apitadela se o jogador estiver no mesmo local há mais de 5 minutos; Pepe não tem braços, aquelas extremidades são apenas apêndices aos seus evoluídos dorsais; Quim pode usar as mãos, sim, mas uma de cada vez - o uso simultâneo dos punhos resultará na marcação de uma grande penalidade (ou mais, se for reincidente). Eu ia a dizer que me custa entender como é que um árbitro com o currículo sujo do Lucílio é nomeado para um jogo destes*, numa altura em que as suspeitas são mais que muitas e a agitação é praticamente catatónica. Porém, segurei os dedos a tempo e reformulei: compreendo perfeitamente esta nomeação. Há anos que a casa gasta do mesmo. E só não continuo com o chourinho porque não quero que me confundam com um tixa qualquer. Mas, como diria Octávio "Tragédia" Machado, vocês sabem do que eu estou a falar.
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um jogo destes" (análise):
-Num campeonato que começou manco e aos repelões, com o Benfica com uma semana de atraso e uma interrupção da prova entre a 2.ª e a 3.ª jornada, prefiro fazer as contas não aos pontos que se ganharam mas antes ao sítio onde se perderam os pontos. Nesta perspectiva, o FC Porto é a equipa em vantagem - perdeu os pontos no sítio certo, nos confrontos directos e como visitante: 3 em Braga, 2 em Alvalade. Já o Benfica fez, como é seu uso, disparate. Perdeu 3 no Bessa - de forma humilhante e ante o mais fraco Boavista dos últimos 10 anos - e outros 2 em Paços de Ferreira num daqueles jogos típicos em que se passa da possibilidade de goleada a um deslize que pode custar um campeonato. Ou seja: o FC Porto ainda não gastou o seu plafond de escorregadelas com equipas pequenas, ao passo que o Benfica já lhe deu bom uso. Isto significa que se o Benfica não ganhar no Dragão, complica bastante as suas contas. Esta situação agrava-se ainda com outro detalhe: pelo que observei, este é um campeonato mais curto e menos competitivo lá na frente. As equipas pequenas parecem-me de novo pequenas, quando comparadas com as grandes - ao contrário do que se vinha passando nas últimas épocas, em que as diferenças se notavam cada vez menos. Logo, os confrontos directos - ainda mais num campeonato a 30 jornadas em vez de 34 - podem decidir o campeão.
-No banco de suplentes estarão dois treinadores que deixam dúvidas e inquietações: um que toda a gente admira mas que nunca ganhou nada; outro que já ganhou umas medalhas, mas que nunca ninguém respeitou. Olhando para a coisa e para a postura de um e de outro, dá-me vontade de dizer que aquele que os tiver no sítio se vai chegar à frente e desempatar a contenda. Espero que nenhum dos dois me desiluda - o Jesualdo, como se sabe, não os tem (pelo menos, no sítio); e o engenheiro, que de burrice e azelhice é farto, tem ar de quem pode ter nessa outra eventual fartura a sua rara qualidade. Um passo à frente, ó faxavor.
-A frente de ataque do Benfica tem sido frequente e ostensivamente atacada - pela comunicação social que, de 0 a 10, dá 4 à Amelinha se ele fizer um hat-trick; pela arbitragem, que construtivamente excluiu do clássico um jogador em grande forma; e pelo Petit que, com a sua ignorância acerca disso do "lance de ataque", se recusa simplesmente a "endossar o esférico" (que é como se diz no futebol) aos seus avançados. Acresce que me arrepia imaginar a possibilidade de ter uma dupla de avançados formada por Kikin e Amelinha no próximo sábado. Sugiro ao engenheiro que dê mais uma oportunidade a Karyaka: triângulo central com Petit, Katsouranis e o russo; a esquerda para Simão; Nuno Assis (doravante designado por "A Cuca") a vagabundar entre o centro do meio-campo atacante e a extrema-direita (salvo seja...), com Nelson (ou Alcides) a subir pelo flanco. A Amelinha fica lá à frente na sua habitual solidão e pode ser que faça o que o ano passado soube fazer. É só uma dica, engenheiro, só uma dica.
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