Thursday, September 28, 2006

O pivot, a penetração, o jogo e o engenheiro a ver a bola

Há dias em que uma pessoa não devia sair da cama. No meu caso, são praticamente todos, uma vez que tenho sempre muuuuuito que fazer nesse departamento da redacção do Dianabol. Infelizmente, a publicidade à Bwin não me compensa com a quantia suficiente para comprar as cebolas, o vinho, o piripiri e os outros bens essenciais à sobrevivência de um indivíduo benfiquista como eu. E é por isso que, sim, tenho um trabalho como a maioria das pessoas... bom, a maioria não digo, mas algumas pessoas, porque... a maior parte das pessoas é:

a) desempregada
b) estudante
c) reformada
d) dona de casa
e) militar na reserva
f) militar no activo
g) outro (piada existencialista)


A ideia é que, de facto, a maioria dos portugueses não faz nenhum e eu, que tenho certificado de vocação para estar quieto, sou um mouro de trabalho... Mas, e agora é que me lembro disto, a que propósito vem esta conversa?...
Ah, sim, "há dias em que uma pessoa não devia sair da cama". Por acaso, e repensando a frase de abertura do texto, esta não foi muito feliz. Digo isto porque o que eu queria fazer era explanar airosa e mordazmente a ideia de que a contratação de Fernando Santos para treinador do Benfica fora de uma infelicidade atroz. Porém, aquele início "há dias em que uma pessoa não devia sair da cama" encurrala-me: quem é que não deveria sair da cama? Eu? O Engenheiro? O Veiga? O Vieira? Posto isto, esqueçamos a frase inicial e foquemo-nos no engenheiro. Na nódoa que é o engenheiro, para ser mais preciso.

Os números de Fernando Santos, desde que chegou ao Benfica, falam por si - o que é positivo, dispensa-se ouvir pela enésima vez "o futebol é isto mesmo, - hrum - tivemos atitude, fomos bravos - hrum -, parabéns ao (... preencher com o nome da equipa adversária ...), que se bateu muito bem e mereceu inteiramente os 3 pontos - hrum". Contabilizemos: no campeonato, em 3 jogos, o engenheiro deu ao Benfica as três expressões possíveis de um resultado - derrota, vitória e empate. Acrescente-se que a vitória aconteceu sobre uma equipa em clara crise no arranque da época. O empate foi contra um sério candidato à descida de divisão. E a derrota, embora num terreno digno, foi por números quase redondos. É mau. Aliás, mau é elogio. Na Liga dos Campeões: na pré-eliminatória, um empate em Viena e uma vitória folgadinha, na Luz, frente ao medíocre Áustria, disfarçaram aquilo que toda a gente (menos o engenheiro) já percebeu a esta hora: a equipa não tem "jogo". Por "jogo" entende-se um conjunto de características que, juntas, fazem com que a equipa, numa primeira fase, "funcione" e, num estado mais avançado, devido a esse mesmo funcionamento, "ganhe". Eu estou a dar ênfase a estas palavrinhas pondo-as entre "aspas" para que o engenheiro não tenha dificuldades em ir tirando "notas", compreendendo assim à primeira aquilo que verdadeiramente importa. Nos dois jogos da fase de grupos da Liga dos Campeões o Benfica confirmou esta minha teoria. No primeiro - pobre, muito pobrezinho -, diante de um adversário fraco, a equipa não demonstrou duas coisas essenciais: "jogo" e "ambição". Sobre o "jogo", lá chegaremos. Sobre a "ambição", a primeira responsabilidade deve ser de imediato imputada ao "treinador" (sim, engenheiro, é consigo). Que raio de equipa entra em campo na primeira jornada de uma prova de pontos, com apenas 6 jogos para disputar, e se dispõe, à partida, a sair de lá sem a vitória? Quem é que abdica de três pontos, ainda antes de um jogo, quando o adversário desse mesmo jogo é o mais (o único?) acessível do grupo? Dr. Fernando, 1 ponto em Copenhaga é coisa para significar, mais ou menos, 4 pontos no somatório final (e estou a assentar o meu cálculo inteirinho na fé que tenho num autogolo do FK Copenhaggen na Luz...). No segundo jogo, frente ao Manchester - e falo do assunto apenas porque me senti pressionado pelos pedidos insistentes de alguns distintos comentadores -, qualquer coisa mudou: o engenheiro quis ganhar! Louve-se-lhe a força de vontade, a criatividade e a "vontade de querer". Mas sublinhe-se a ingenuidade da pessoa. Contra uma equipa como o United, até é legítimo que se queira ganhar - não são, neste momento, o monstro que foram nos anos 90. Mas essa legitimidade cai por terra quando se é de uma equipa como a do Benfica, treinada por uma "pessoa" como o engenheiro ou, reformulando, por um "engenheiro" como o Fernando. A primeira parte até nem foi má. Pelos vistos, Fernando Santos tem lido no Público o Freitas Lobo a explicar o que é isso da "pressão alta" (para um engenheiro é capaz de, à primeira, soar a coisa mais complexa; contudo, no fundo, não passa de "melgar" o adversário assim que ele tem a bola nos pés, em linhas específicas do terreno, impedindo a sua progressão e obrigando-o a cometer erros... 11 Petit's em campo, em suma, mas sem violência gratuita... ou não necessariamente com violência gratuita). Agora, acontece que o Freitas Lobo ainda não deve ter escrito acerca da armação de jogo, abertura de espaços e criação de desequilíbrios. Isto são tudo termos da treta que agora se usam muito na televisão, em grande parte desde que o José Mourinho chegou aí com essas tangas todas modernas e estratégias com nomes estrangeiros e o catano. Mas, no fundo, isto significa: "se o Simão tem a bola, na esquerda, e a defesa está fechada, "alguém" tem de fazer alguma coisa para que ele possa optar por uma das seguintes acções:

a) cruzar para o coração da área, fora do alcance do guarda-redes, para a cabeça da Amelinha (para a Amelinha acertar com o joelho ou assim);
b) tabelar com um pivot, permitindo-lhe uma penetração... hru-hrum... sem maldade... uma penetração na área em situação privilegiada para marcar;
c) armar o remate de fora da área, em zona perigosa;

e, sobretudo, não seja obrigado a executar uma das seguintes acções:

a) tabelar com Léo ad infinitum/até a bola sair pela lateral;
b) atrasar para o Petit/Luisão/Quim;
c) "virar" o jogo - ou mudar de flanco -, correndo o risco de entregar a bola ao Paulo Jorge."


Todas estas coisas que eu estou a escrever, engenheiro, fazem parte daquele conceito maior, o tal de a equipa ter "jogo". Tome nota.
Na segunda parte do jogo com o Manchester, fiquei com a impressão de que estava a rever o Benfica - Barcelona do ano passado. Com a diferença de que os ingleses não faziam grande questão de ganhar por muitos e, por isso, não foram tão sôfregos, limitaram-se a esperar que o golo surgisse com naturalidade. Saha fez um pequeno esforço, Andersson não deixou créditos por mãos alheias e demonstrou, uma vez mais, como se pode acumular uma série de funções: ser brasileiro, feio, grande, central do Benfica e generoso, em simultâneo - já o fizera no Bessa e na Mata Real com notável aproveitamento.

E agora, engenheiro, que o texto vai tão longo que, seguramente, já ninguém nos lê, aqui fica a última dica (vai em pacote): Andersson para o banco, Alcides a central, Nelson de volta à direita; um só trinco - Katsouranis -, Petit no banco, Karagounis na transição defesa-ataque; Simão de um lado, Nuno Gomes na frente e, enquanto o maestro coça e não coça as micoses, o agarradinho a correr que nem um doido, a número 10; não ponha ninguém na extrema direita, deixe aquilo vazio - mais vale que a bola se perca pela lateral do que ter o Paulo Jorge a entregá-la aos adversários, a estorvar os colegas e a obrigar os comentadores a repetir, durante 90 minutos, "é um jogador esforçado e muito rápido". Estamos entendidos? Ah, bom. É que, se não, o próximo lenço branco será o meu... err... deixe lá, esqueça o texto: o próximo lenço branco é meu, de certeza absoluta.

Wednesday, September 27, 2006

A contratação!

Isto é notícia para amanhã fazer manchete no Record e no 24 Horas! Quero anunciar, em primeira mão, a toda a massa associativa do Dianabol, aos leitores, adeptos do Benfica, aos outros do Folcuporto e ainda ao povo, em geral, a contratação do ano: a... (bolas, Sportém já empatou...) hu-hrum, dizia eu que - e isto é que realmente importa, quem é que quer saber da Champions? pfff... - a Helena Henriques já faz parte da nossa diminuta mas mui honrada, bem informada e dianabólica redacção. Façam o favor de lhe dar as boas vindas, com bons modos.

Para os mais desconfiados, aqui fica uma nota: escrever no mesmo blogue não significa necessariamente a assinatura de um tratado de tréguas permanentes ou panelinhas desavergonhadas. O contrato é meramente verbal.

Monday, September 18, 2006

Vanguardas

1. Vata. Passei o fim-de-semana inteiro a pensar nesse eterno número 16 benfiquista. O homem dos 5 minutos finais. O gajo que fazia um a zero ou o dois a um nos descontos. Vata. O desajeitado que tirou o Tapi do sério. O acidental que colocou o Benfica na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus com uma mão que não foi de Deus nem de qualquer individualidade que andasse sequer pelos arredores do Criador: fê-lo com a sua singela extremidade, sem vaidades. Foi uma questão de necessidade, não de ostentação ou talento: quando a perna não chega lá, estica-se o braço.
Eu acredito que um golo marcado com a mão tem sempre o seu quê de vaidade, de maldade, de provocação - é como uma bola por baixo das pernas do guarda-redes, soa sempre a desleal. É uma ratice, uma sacanice, uma espertice. Mas Vata inaugurou uma era, foi um vanguardista: marcou com a mão porque sim, porque não dava com outra coisa. Foi genuíno, fê-lo com pureza de espírito. O mal de Rony foi ter chegado à ribalta com 17 anos de atraso. De outra forma, seria ele o vanguardista de serviço.
Não obstante a inocência do lance, agradou-me a forma como os pacenses deram continuidade a uma das mais belas tradições do futebol nacional: o encavamento do Sportém. E com bónus: o árbitro "não viu". Como os meus leitores mais antigos deverão saber - caramba, há quase um ano que me lêem! -, isso é para mim motivo de valente regozijo! Obrigado João. Já só te falta limpar dois vermelhos - o do Manu está descontado.

2. Mas falar de vanguardas sem mencionar o Berlusconi da Invicta é disparate. Não há coisa que se faça hoje em dia no futebol português que o Corleone da Ribeira não tenha já experimentado em meados dos 80's. Não há esquema vigente nos bastidores do lamaçal da BWin que o Padrinho de Campanhã não tenha já decretado obsoleto.
Andam os aprendizes inchados e vaidosos com os seus nomes nas manchetes dos jornais por alegadamente serem desonestos, por alegadamente aliciarem árbitros, alegadamente pressionarem dirigentes, alegadamente trocarem favores e alegadamente etc, e já o Soprano das Antas esqueceu o preço de uma viagem ao Brasil. Andam Veigas e Vieiras e outros que tais preocupados com desmentidos e "digo que não disse o que disse" e o Dom do Dragão ensaia já uma nova abordagem às vitórias futuras: o lateral-direito do adversário. Não, não se trata propriamente de "comprá-los" - Sonkaya deixou mazelas. Digamos que a operação tem mais que ver com o aluguer dos préstimos do craque por 90 minutos (mais descontos). O investimento tem-se revelado um sucesso! Dois jogos, dois golos, duas vitórias. Mário Sérgio deu continuidade ao trabalho iniciado por Rui Duarte. Atentemos, para a próxima semana, no desempenho de Jorge Vidigal.

3. De vanguarda em vanguarda, eis que o Glorioso se chega à frente e diz: "presente!". Nunca na primeira divisão se houvera visto um treinador de bancada, vindo directamente do Terceiro Anel da Catedral, ganhar três pontos (na relva... a violência não conta aqui). Desconfio que o Grande Benfas tem um plantel de qualidade superior. Estou em crer que, com esta equipa, até com a Águia Vitória a dar a táctica a gente ganhava ao Nacional. Era a ensiná-la a dizer "o futebol é isto mesmo" e a ajeitar a gravata e ficava no mesmo patamar que o engenheiro...

Mas vamos ao que interessa que o Nuno Assis já está com tremeliques:
(por falar nisso: gostei do jogo do Benfica)

-Quim, 7mlg.
-Alcides, 6 mlg.
-Luisão, 8 mlg.
-Andersson, 6 mlg.
-Léo, 6 mlg.
-Katsouranis, 7 mlg.
-Karagounis, 7 mlg.
-Nuno Assis, 13 mlg. (7 mais o "suplemento vitamínico")
-Paulo Jorge, 5 mlg.
-Simão, 7 mlg.
-Kikin, 3 mlg. (descontei os 2 do castigo por veadice, evidentemente)
-Miccoli, 4 mlg.
-Mantorras, 5 mlg.
-Miguelito, ----
-Águi Vitória, 6 mlg. (e um naco de Picanha)

Monday, September 11, 2006

Atentai no exemplo do Gil Vicente

Após um breve interregno para analisar o vinil(o), o bigode farfalhudo e os fatos de treino, eis que a reduzida redacção do Dianabol se deixou de fait-divers e decidiu dedicar-se a qualquer coisa com mais substância. Digerido que está o cozido à portuguesa, resolveu-se que, em havendo tempo, se escreveria sobre futebol. Mas antes de lá chegarmos, gostaria de mandar daqui um abraço para o pessoal do Pato Real que, uma vez mais, nos presenteou com um banquete luxuoso. O chispe estava que era uma delícia. Pena que a farinheira não fosse também ela assim soberba...
Falando de futebol. Após esta jornada, falar de futebol implica uma coisa: não falar do Benfica. Considerando que o seguinte esquema "Luisão dá para Petit; Petit entrega para Andersson; Andersson endossa em Léo; Léo lateraliza para Nelson; Nelson coloca em Petit; Petit devolve a Luisão" é a jogada-tipo de uma equipa, temo que não se possa - por mais boa vontade que se tenha - falar em "futebol", propriamente dito. A derrota foi copiosa mas os números, ainda assim, não foram tão desequilibrados quanto a diferença entre as duas equipas em termos do chamado "futebol". Tirando Quim e Petit, mais ninguém soube muito bem o que é isso de "jogar a bola". É claro que Petit fez questão de mostrar, uma vez mais, que não sabe só "jogar a bola". Aliás, diria que nem é essa a sua maior vocação. Que o castigo lhe seja pesado. A este ponto do texto, poderia dissertar acerca do treinador do Benfica. Porém, ainda não estou seguro de que essa figura exista na hierarquia benfiquista. Ficamos à espera que se anuncie, o mais brevemente possível, o nome do técnico encarnado, porque isto só com adjuntos mais o Rui Costa não me parece que vá lá.
Fico triste. Tenho que admitir que fico triste. Especialmente depois de, na sexta-feira, ter recebido a boa notícia: também nós, o Glorioso, temos poder nos bastidores. Não será um poder anafado e corleónico, ao jeito do ex-namorado da Carolina Salgado. Mas existe, ainda assim, uma certa capacidade para exercer pressão sobre os organismos que dirigem os interesses do folcuporto ou, como se diz na gíria, do "futebol português". Também Luís Filipe Vieira pode escolher um árbitro, de vez em quando, para um jogo da Taça. Nada mau. A continuar assim, qualquer dia fazemos parte do G-14. É claro que esta boa nova teve efeito pouco duradouro, à boa maneira de tudo o que é bom na vida. O Benfica perdeu uma boa oportunidade de seguir o exemplo barcelense e do seu presidente Fiúza. Uma falta de comparência não teria sido tão vexatória.

Vinde a mim, ó almas sedentas:

-Quim, 7 mlg.
-Nelson, 5 mlg.
-Luisão, 4 mlg.
-Andersson, 2 mlg.
-Léo, 4 mlg.
-Petit, 3 mlg. (eram 7, mas retirei-lhe 4, um por cada jogo de castigo)
-Katsouranis, 5 mlg.
-Manu, 3 mlg.
-Miguelito, 3 mlg.
-Rui Costa, 3 mlg.
-Amelinha, 3 mlg.
-Kikin, 1 mlg. (eram 3, mas a alcunha é demasiado gay: até ao dia em que na Digníssima se leia "Fonseca" e não "Kikin", o mexicano será penalizado em 2 miligramas)
-Nuno Assis, 8 mlg. (era 2, mas, já se sabe, Nuno Assis é pessoa de muito alimento neste capítulo)
-Mantorras, 2 mlg.
-Treinador do Benfica, ---------

Friday, September 08, 2006

Segundo assalto

Achei este título particularmente espirituoso tratando-se o meu oponente (não, não lhe chamo rival, que ele ainda hesita a esse respeito) de um (mais ou menos) respeitado escriba de um blogue intitulado Mãos ao Ar. Ora, digam lá se não foi bem imaginado, hein? Segundo assalto -----> Mãos ao Ar. :)

Caro Bulhão,

como sabes, sou uma pessoa muito sossegada. Esta coisa dos duelos e não sei quê acarreta um grande dispêndio de energias e dinheiro em balas... pois, hrum... bem sei que escolheste o florete - azarinho.
Se calhar estás a estranhar este tom muito directo, dirigido especificamente à tua pessoa, menosprezando a avidez dos milhares de olhos que se esbugalham, neste preciso momento, frente aos ecrãs dos cyber-cafés, bibliotecas públicas e secretárias do José António Lima em redacções do jornal A Bola do planeta. Eu explico: para além de me sentir desconfortável na pele do profeta que fala para a multidão, existe uma razão ainda mais forte que me leva a fazê-lo - gosto de olhar nos olhos o adversário antes de desferir o golpe de misericórdia. E também gosto de atacá-lo pelas costas, à traição. Aliás, se houver essa possibilidade, até prefiro. Mas, para que depois não venhas com discursos mariquinhas "que não sei quê, que aquele Guitarrista, ai que horror, é um benfiquista bárbaro", desta vez poupo-te à tradicional cacetada na moleirinha. O que não garante que não venha a fazer uso do pica-rim.
Mas vamos ao que interessa que isto assim parece conversa de comadre. Antes de mais, queria perguntar-te, como bom benfiquista, que coisa é essa do "freud" e do "freudiano", que vos vejo sempre a falar no assunto e nunca percebo muito bem ao que se referem. Não estarão a fazer confusão com outra palavra qualquer? É que, sinceramente, isso são termos que nem me parecem portugueses. Isto, embora eu desconheça uma elevada percentagem dos termos da língua portuguesa.
Acerca da tua resposta à minha resposta à tua provocação (para os leitores: foi ele que começou), começarei pelos tubos de policloreto de vinil - assim, sem "o" no fim (os espanhóis é que dizem vinilo). Aliás, nem é por aqui que vou começar, soaria a deselegância emendar os golpes desferidos pelo oponente.
Por onde eu quero começar é pela chamada "questão essencial da polémica". Escreve o Bulhão, e provavelmente escreve-o com a ajuda de Sancho Urraco (considera esta menção uma gentileza, Bulhão - foi a pedido; sinto-me um fiscal-de-linha num jogo dos distritais), que "o tocador de banjo sabe bem qual é a questão essencial da polémica. Nunca nos diz qual é, mas vê-se que sabe". Fez-me lembrar aquelas pessoas que, quando se lhes conta uma anedota mais elaborada, abrem muito os olhos e riem alto para dar a ideia de que perceberam mesmo a piada. E eu até acredito que saibas qual é a questão - não menosprezo a tua perspicácia. Contudo, e para que não restem dúvidas, eu generosamente explico a "questão": intriga-me a fixação que o meu caro tem pelo Benfica. A sério que me intriga. Pergunto-me o que levará um orgulhoso sportinguista a escrever tantas vezes sobre o Benfica. Quer dizer, não me pergunto assim tanto. Digo isto apenas para dar algum ênfase ao texto. Mas que é estranho que se escreva um relato escarninho de uma ida ao Estádio da Luz - para ver o Benfica com o Austria Viena...-, ai isso é. Fora os restantes textos... não vou agora contá-los - por um lado, só sei contar até 20, o que é manifestamente pouco dada a quantidade de posts que dedicas ao Glorioso; por outro, falar em números quando a conversa é sobre bola é tão inadequado como falar em talento quando o tema é "Beto". Não vou agora incomodar-te com mesquinharias, nem pretendo que te justifiques, perante mim e também perante o mundo que nos lê, apreensivo e com dificuldades várias (miopias, analfabetismo, pó no ecrã... é escolher). Mas tens que concordar que a fixação de que falo existe e que, sobretudo, é recorrentemente exposta em termos pouco variados: ele é os fatos de treino, ele é os bigodes, ele é a gramática adaptada do Vieira, ele é o coirato... Eu já aqui há uns tempos escrevi um texto alusivo ao tema. Tratava-se de uma tentativa de condensar todas banalidades que se dizem e escrevem a respeito do Benfica. Claro que, devido à escassez de leitores deste recanto recôndito da imensa Blogosfera, ninguém me ligou nenhuma. Não os censuro. Mas, por outro lado, se me tivessem prestado atenção, não estava agora a gastar as teclas.
Para rematar, manifesto a minha indignação. E porquê? Porque o amigo Bulhão se esqueceu de mencionar o alaúde.

Cumprimentos ao Sancho e as melhores lá do problema das varizes.

Guitarrista

Wednesday, September 06, 2006

Dinheiro fácil

Em jornada de selecções na qualificação para o Europeu, as odds por aqui não são grande coisa... Ainda assim, saltam à vista dois ou três jogos. No Rússia - Croácia, a vitória dos compatriotas do temível Sokota paga 3.55€ por cada unidade eural apostada. Mas não é tudo: mesmo depois do Mundial, os amigos da Bwin não aprenderam a lição e voltam a dar favoritismo claro à França - cada moedinha daquelas apostada na vitória italiana paga 3.55€ de volta, caso a Squadra dê aos franceses o que os francese merecem. A fechar, não posso deixar passar em claro o empolgante Islândia - Dinamarca. Dizem os correctores da casa de apostas que uma vitória dos islandeses paga 5.75 por cada unidade. Eu diria que vale a pena gastar o tostão, fazendo fé que um Gislavson ou Gudmundjunssen qualquer fazem a gracinha e devolvem os dinamarqueses ao seu estado de espírito típico - a depressão crónica. Bons palpites!

Tuesday, September 05, 2006

Sobre um certo texto de um determinado leitor...

Farto e refarto do Caso Mateus, deixei-me de galo e virei-me para Pato. Bulhão Pato, no caso. Esta introdução foi pobrezinha e forçada, mas, para além de eu ter vindo de férias agorinha mesmo, senti que era necessário reforçar a ideia de que este ilustre leitor e pretendente a benfiquista ostenta, logo no nome, o passaroco que o torna, à partida, súbdito de Sua Majestade alada, a Águia que no céu vai voar, alto, mais alto, ninguém nos vai parar! Ninguém páró Benfica, ninguém páró Benfica! SLB SLB SLB SLB Glorioso... hrum... já divagava.
Isto vem tudo a propósito de uma certa prosa razoavelmente amanhada pelo nosso comparsa que, de bigodes fartos - a-ah!, mais um sinal! -, se apresenta nestas imundas caixas de comentários com alguma frequência. Aliás, o próprio Pato tratou de, com descaramento, dirigir-se a este espaço de saudável debate para desafiar toda a redacção do Dianabol a espreitar a sua obra-prima. Curiosos como somos, lá fomos, como equipa que se preze: de roda do Schneider Euro AT líamos, sem qualquer pingo de espanto, um texto que, apesar de bem-disposto e sem erros ortográficos (pareceu-nos...), pecava pela falta de chama, de encanto e de novidade. Diz Pato que o benfiquista usa fato-de-treino - oh, espanto geral! -, que tem o cabelo seboso - deveras?! Oh, senhor da revelação, que me iluminas!... -, que diz "brumelho" e que se chama Zé Manel. E, pasmem-se, todas estas conclusões foram registadas, com zelo e rigor, no seu caderninho - Moleskine, já se vê, que o Pato é lá todo da cultura e da literatura e assim... - durante uma visita ao esplendor da Luz, durante um jogo de uma prova que o próprio nunca houvera presenciado, atrevo-me a supô-lo. Em abono do Pato, refira-se que a ilustração é espirituosa. Porém, lendo as últimas linhas, repara-se na redundância do apelido - sim, Bulhão, mesmo os benfiquistas já tinham percebido que os bichos do retrato eram uns macacos quaisquer, não valia a pena repeti-lo.
De qualquer modo, importa elogiar a iniciativa do nosso companheiro e futuro comprador do kit - não falo do Trans AM adulterado do Justiceiro... bom, sim, ele pode ser justiceiro, mas não é o Michael Knight... Adiante. Respirar o ar sagrado da Catedral, assistir à Vitória descendo desde o 3.º Anel (finíssima esta metáfora! Finíssima!), são gestos que, por si só, engrandecem o Ser Humano. Escrever sobre o assunto, ainda que sob a forma da catarse moderna (que os clássicos enviesavam por caminhos menos envergonhados), é uma demonstração de honra. Porque, assumir a própria iluminação perante uma plateia de cegos, é um acto de coragem. Bem-hajas, Bulhão.