Friday, June 30, 2006

Má-língua - especial mundial

-Diz-se que na redacção de um determinado site holandês se ouviu um coro de gritinhos de "vvvvvvvvvvvvvvffff... foi por um triz" quando Boulahrouz teve aquela entrada mais "impetuosa" sobre Cristiano Ronaldo. O craque português entretanto já reagiu "preferia que fosse um site de gajas".

-Nos EUA, os adeptos mostram-se extremamente satisfeitos com a participação da sua selecção neste mundial. "Está muito de acordo com as nossas políticas externa e de defesa" confidenciava um adepto. "Repare, os mundiais, para a América, são como as guerras: estamos em todas e levamos sempre na cara" ao que acrescentou "pode não ser muito agradável mas, às tantas, uma pessoa habitua-se, acha piada e, no fim, até diz 'God bless America'. Além disso os meus filhos não gostam de futebol... nem são marines".

-Os seleccionadores Domeneck e Parreira chegaram a um acordo de cavalheiros - à qual um certo texto do Dianabol não terá, com certeza, sido alheia, mas enfim...: em caso de empate após o prolongamento, em vez da "lotaria" sempre injusta dos penalties, as equipas irão disputar o acesso às meias-finais de uma forma em que, em vez da sorte, sejam a estratégia e a experiência de jogo a vir ao de cima. Assim, uma vez esgotados os 120 minutos, Cáfu e Ronaldo, de um lado, e Zidane e Thuram, do outro, deslocar-se-ão até ao círculo central do estádio Hessen onde disputarão uma partidinha de sueca à melhor de 5. A iniciativa já recebeu a anuência de Blatter e Beckenbauer que exclamaram em uníssono para os média "ó, sim! A ideia é brilhante. Qualquer que seja o esquema para voltar a ter as suecas outra vez no estádio a fazer claque merece todo o nosso apoio". Domeneck atribui o favoritismo aos brasileiros: "caso Ronaldo esteja cansado, têm muito por onde escolher - o Roberto Carlos tem uma mão esquerda fortíssima, é preciso não esquecê-lo". Parreira recusa o elogio e devolve "quem, nóis? Então e aquele do Arsenau? Esse cara tem sempre trunfo na manga". Entretanto, as suecas já garantiram que vão puxar pelas duas equipas - "acima de tudo está o jogo" disse Svenska Carlsberg ao ouvido deste vosso humilde redactor, segundos antes de entrarmos na sauna. Depois disse mais coisas, mas não consegui traduzir.


Guitar-uista... big... great... punta-da-lança, disse Svenska a Helen Svedin enquanto assistíamos a um treino da selecção nacional portuguesa.

Wednesday, June 28, 2006

O Mundial - Primeira parte do primeiro balanço

Pela primeira vez em três semanas não estou em frente à televisão a comer batatas fritas de pacote, a fazer rolinhos com os pêlos do umbigo e a beber Trinaranjus de maçã. Isto, enquanto estou a avaliar o que é que um tobaguenho percebe de bola ou a dar palpites sobre a localização geográfica da Costa Rica (que afinal fica mais acima do que eu supunha), a divertir-me com inépcia dos americanos na sua relação com uma bola esférica domada com os pés ou a indagar acerca da desorientação comportamental de sérvios, montenegrinos e toguenhos. Toguenses. Toganheses. Os do Togo.
Posto isto, já é mais que tempo de falar sobre uma coisa de que toda a gente tem falado: o Mundial de futebol. Que fica - assim como muito bom emigrante português - na Alemanha. Para os meus leitores emigrantes na França e no Luxemburgo: a Alemanha fica no estrangeiro. Aproveito para mandar daqui um grande abraço para a diáspora lusa. Sai mais barato do que mandar SMS's para o Portugal no Coração a dizer "Adelina, lembras-te de mim? Sou o Rogério, andei contigo na escola primária, até à segunda classe, em Arcozelo de-Para-Baixo-de-Debaixo, nos anos 50. Beijinhos e ainda te amo muito. Je tême an cór, que é como se diz aqui".
Assim como primeiras impressões, tenho a dizer que os apanha-bolas do Mundial têm sido de uma ineficácia tremenda. Bem sei que a FIFA se tem mostrado relutante em partilhar as bolas dos jogos (o episódio com Fred, do Brasil, tem o seu quê de inacreditável) mas, caramba!, quem está em campo precisa de qualquer coisa redonda que diga Adidas para poder, enfim, jogar, como se costuma dizer. Acredito que 50% do tempo que se perde nas reposições de bola em jogo se deve precisamente ao fraco desempenho dos apanha-bolas. Talvez andem distraídos a olhar para as bancadas. Compreendo, compreendo. Porém, quem lhes paga não é com certeza a claque mexicana, por isso, olhinhos no relvado, se fazem favor.
Uma outra coisa de que gostei bastante foi da primeira fase espanhola. Sim senhor, futebol de luxo, muitos golos, vitórias e, sobretudo, o aumento do ego de Castela e arredores (mais apêndices). É muito mais bonito ver a Espanha a ser eliminada - que eliminada, varrida! - depois de já terem preparado a festa e apregoado o resultado final. Têm memória curta, é o que é. Existe ainda outra característica nos espanhóis que muito me agrada: são sempre designados cabeça-de-série. E eu tenho para mim que isto é dedo de tuga lá na FIFA só para lhes aumentar a dor e o sentimento de humilhação. Algum dos leitores do Dianabol porventura se lembra da Espanha numas meias-finais de um Europeu ou de um Mundial?
Ainda por cima os espanhóis perderam com a França. Historicamente falando, não gosto da França - e não é só por causa dos emigrantes portugueses que lá existem; a cena do Napoleão e isso também não me agrada. E a do Platini, em '84. Agora, tem lá jogadores que merecem estar num pedestal: Thuram, Vieira, Henry e, claro, Zidane. A estes juntem-se David "Sentado" Trezeguet e a revelação Ribéry "Scarface" e temos uma selecção que merece muito mais respeito do que aquele que teve no arranque da competição. E aí estão os gauleses a mostrar como se comportam os verdadeiros candidatos: em vez de esbanjar foguetes nos jogos a feijões, fazem como nas maratonas, correm de trás para a frente. Aos poucos, vão galgando terreno e ultrapassando adversários com muita euforia mas pouco estofo.
A Argentina é outra Espanha, parece-me. Muito fogo de vista, muita artilharia, mas, quando chegar a hora da verdade, palpita-me que vacilam. Dois jogadores em destaque nesta equipa: Tevez e Riquelme. A este último, falta um pouco de "garra de génio". Se a tivesse, poderia estar no topo do mundo. Destaquei estes dois, mas existem mais jogadores de grande qualidade, obviamente. Agora, enquanto equipa, parece-me "curta" de soluções. E isso viu-se contra a Holanda, assim como contra o México (ambas equipas medianas).
Escassez de recursos já é doença que não incomoda o Brasil. Equipa de uma ponta a outra, com soluções para tudo. E quando este "tudo", esta massa de brincalhões-dribladores com uma parede (Lúcio), um pulmão (Zé Roberto) e um desastre (Juan), dizia eu que quando este "tudo" falha, existe um gigante na baliza e um... "gorducho" lá à frente. Para os menos sensatos, fica aqui um aviso: não se deve subestimar alguém que tem como cognome "Fenómeno". Não lhe foi posto pela Nike. Foi ele que o conquistou. E, por mais Ronaldinhos que apareçam por aí, para mim Ronaldo continua a ser a melhor coisa que aconteceu ao futebol desde o surgimento de Maradona. Aliás, julgo que se aquela lesão não lhe tem aparecido, hoje o futebol teria três reis, em vez de dois. Ronalducho lá vai indo, com seus quilinhos, ora marca de cabeça, ora vai de fora da área, ora quebra os rins ao guarda-redes. Graças a deus não está em forma....
E acho que não vou falar já sobre todas as selecções. Já estou um bocado farto de dar aos dedos. Queria apenas sublinhar o feito da Ucrânia. Chegar aos quartos-de-final não é brinquedo para uma selecção que veste de amarelo canário, a não ser que se chame "Brasil". Agora - e isto pode ser um bocado teoria da conspiração -, fala-se (tem-se falado, ultimamente...) daí de umas cenas, umas substâncias e umas operações e coisas assim para fazer alterações genéticas nos atletas, ainda em idades muito tenras, para que se obtenham "super-atletas" no futuro. Dizem que, por exemplo, o Ian Thorpe e a sua barbatana tamanho 58 são já frutos destes programas. Ora, a mim ninguém me tira da cabeça que o facto de os ucranianos serem, na sua maioria, da geração Chernobyl tem contribuído para a sua prestação na prova.

Monday, June 26, 2006

O verdadeiro futebol espectáculo

ou

eu se pudesse ia mesmo para treinador de bancada, que lá é que se está bem



Se pensam que vou falar do jogo de ontem a dizer que foi "épico" ou "uma batalha campal" ou que venceu a "alma lusa" talvez estejam enganados. Não sei ainda se vou ou não falar disso porque estou no início do texto e não gosto de planear em demasia o que escrevo. Mas, para já, apetecia-me falar de outras coisas. Por exemplo, apetece-me falar da pena que tenho de ver partir da competição equipas que, sem dúvida, representavam mais-valias para o adepto do desporto-rei. Uma pessoa - eu, neste caso - sentava-se para ver um jogo do México e já sabia que, mesmo ficasse zero a zero, aquilo ia valer a pena. O México foi, para mim, a selecção que melhor soube povoar as bancadas. Se há equipa que joga bonito fora do campo essa equipa é a do México. As mexicoas têm um ar muito simpático, muito agradável, muito saudável.


Lá no México chamam-me figo.

E ficam descapotáveis para as câmaras com uma grande facilidade. Nota-se que é gente boa. Há casos em que se nota muito, até. Por isso acho que, com a saída do México, vai haver gente que deixa de ver os jogos. Isto, eu estou a falar nos países com adeptos normais. Em Portugal continuará a haver audiências desde que haja programas com o Goucha e com a Rita Ferro Rodrigues e com a outra, a Sónia Araújo - que por acaso até tem ar de mexicana - e com os grupelhos que animam os bailaricos da santa terra a fazer de estrelas da música e a ir à televisão e, claro, depois pergunta-se o que é que se acha do jogo e do Ronaldo e blá blá blá. Mas já me estou a perder. Por acaso, agora que falei na Sónia Araújo, gostei muito de a ver, há uns tempos atrás, com um topezinho feito com a bandeira portuguesa. Kitsch, sem dúvida. Pirosinho, pirosinho. Mas, convenhamos, naquele busto qualquer trapinho assenta bem. Um regalo para a vista, sobretudo se pensarmos nisto como recompensa por termos que levar com o Jorge Gabriel. Que, ainda por cima, fala. E também tenho pena de ver partir as suecas. Que a selecção tenha sido eliminada já é espanto e castigo suficiente - caramba!, uma frente de ataque que, traduzida em ouro, devia andar na ordem das toneladas: Zlatan Ibrahimovic, Larsson, Ljungberg... - mas eu acho que, desse por onde desse, o público no estádio devia ser mexicoas e suecas, fifty-fifty. De vez em quando, pôr lá umas paraguaias, que também tiveram comportamento exemplar. Se forem como a sua equipa são danadinhas para o autogolo. Mas tem havido agradáveis surpresas neste mundial - para além do Paraguai, claro.


Não desfazendo das paraguaias... eu acho que não é preciso dizer mais nada.

Os americanos, que, apesar de andarem há décadas a ver filmes e a ler livros sobre o assunto, não sabem jogar à bola, têm uma claque surpreendente. Dá a ideia que o soccer lá deve ser uma espécie de desporto radical, tipo o surf ou assim. Aquilo são miúdas com cara de quem gosta de surf. Depois há aquelas que uma pessoa nem se lembra que existem. Aliás, à imagem da selecção que, com pezinhos de lã, ainda por lá anda. Fala das ucranianas, evidentemente. Que dantes eram super-exóticas e hoje em dia a gente conhece dezenas delas, todas casadas com empregados da construção civil. Mas, realmente, jogos da Ucrânia, são jogos com uma moldura humana de aspecto catita. Depois existem as equipas que a gente já sabe que são favoritas. Há sempre as brasucas, que se mexem muito e se vestem muito pouco e que, pronto, espetam o rabo e dão nas vistas. Mas essas são assim de uma onda mais tropical. Se formos numa de civilização e elegância, com alguma sofisticação, algum glamour em vez de ser só a cena da carne destapada, aí, meus amigos, não há como a pátria do cattenaccio. Abençoada terra. Podem ter um futebol muito feio, mas mulheres é com eles. Também não posso deixar de notar a prestação espanhola. Sem dúvida, acima da média. Aliás, devíamos aprender com eles, que são daqui de tão perto, e mandar para lá exemplares com apresentação semelhante - que também temos por cá muita mulher de bom recorte e rosto aprazível. Substituir aqueles monos imigrantes "tou-e na Álemãinha há binte-xinco ánus! bai pa binte-xeis" que andam sempre de roda do marido que é calceteiro ou varredor ou assim e que está sempre de copo na mão "bim pa láip-pçije ainda era garoto" e que dizem que Portugal ganha sempre por muitos - isto se não houver prolongamento; quando há, ganha por mais ainda. E, pronto, basicamente era isto que eu queria dizer. A minha lista de preferências (o factor surpresa teve peso na minha decisão, daí que a Itália não ganhe): México, Suécia, Itália, Ucrânia, EUA, Espanha, Brasil e Alemanha. As inglesas também têm atributos, mas mostram-nos com demasiada facilidade. Haja um copo de cerveja e inglesas que, daí a nada, aparecem os pares de mamas à mostra. Doidas.


Se me querem ver as maminhas têm que me dar nacionalidade inglesa.

Thursday, June 22, 2006

Pequeno desafio ao visionário e desocupado leitor

Estava aqui a pensar num jogo. E que tal fazermos um conjunto de apostas? Funcionaria assim: faz-se uma lista de oito equipas + um joker. A ordem por que se alinham as equipas tem a ver com o raciocínio "1ª escolha para vencedor, 2ª escolha para vencedor", etc, por aí fora, até à oitava escolha. Não é uma lista com a previsão da classificação das equipas, mas sim de apostas em "favoritos para favoritos". Depois, consoante o lugar em que termina cada uma das escolhas, obtém uma pontuação (apenas os 4 primeiros, portanto, só os que chegarem às meias-finais são pontuados). Do tipo: escolha n.º1 em 1.º lugar paga 8 pontos (total). Mas, se ficar em 4.º (último lugar "pagável") recebe apenas 1 (1/8). O raciocínio aplica-se a todos os oito por ordem decrescente de um ponto a menos no total inicial (2.ª escolha em 1.º lugar paga 7; em 2.º paga 3,5, etc. - sempre assim com todas até à oitava). O joker só paga em caso de chegar à final - porém paga 9 em caso de vitória e 4,5 em caso de finalista vencido (e isto pode fazer um twist na aposta uma vez que se pode transformar o grande favorito em joker, por exemplo - dar o joker ao Brasil será, portanto, uma tentação difícil de evitar; ou pode jogar-se pelo seguro, confiando que o favorito vai atingir as meias-finais, garantindo pelo menos 1 ponto, e fazendo de um outsider o joker, por exemplo). No final, somam-se os pontos todos e vê-se quem é o Nostradamus dianabólico.

Aqui vai a tabela de pagamentos:

1- (W8; F4;3º2;4.º1)
2- (W7; F3,5; 3º 1,75; 4º 0,875)
3- (W6; F3; 3º 1,5; 4º 0,75)
4- (W5; F2,5; 3º1,25; 4º 0,625)
5- (W4; F2; 3º 1; 4º 0,5)
6- (W3; F1,5; 3º 0,75; 0,375)
7- (W2; F1; 3º 0,5; 4º 0,25)
8- (W1; F0,5; 3º 0,25; 4º 0,125)

+

-Joker W9;F4,5.


E a minha lista:

1- Itália (W8; F4;3º2;4.º1)
2- França (W7; F3,5; 3º 1,75; 4º 0,875)
3- Alemanha (W6; F3; 3º 1,5; 4º 0,75)
4- Portugal (W5; F2,5; 3º1,25; 4º 0,625)
5- Brasil (W4; F2; 3º 1; 4º 0,5)
6- Holanda (W3; F1,5; 3º 0,75; 0,375)
7- Argentina (W2; F1; 3º 0,5; 4º 0,25)
8- Espanha (W1; F0,5; 3º 0,25; 4º 0,125)

+

-Gana (joker) (W9;F4,5)


Podem deixar as vossas apostas nos comentários. O vencedor terá direito a que o seu nome/nick e link para o blogue (ou blogues) caso seja blogueiro (independentemente de ser de futebol ou não, é à escolha do freguês) figurem aqui no sobre o template pelado deste magnífico antro de dopagem, no bom espírito anti-desportivo. Isto, se me apetecer cumprir com o prometido. Posso mudar de ideias, evidentemente.

Nota de post scriptum: o concurso foi lançado muito em cima da hora. Então, para que haja alguma justiça, as apostas devem ser feitas até amanhã (dia que já tem 1/8s de final, portanto, já a dar vantagem aos nossos professores Bambo). Assim, quem apostar depois de amanhã, só poderá fazê-lo em 4 equipas, aplicando a pontuação dos 4 primeiros postos da grelha (1.º vencedor 8 pontos, etc.). Quem não o fizer, será provavelmente desclassificado. Mas não garanto, que eu até simpatizo com um bocadinho de batota.

Quem sabe, sabe...

"Só gostava de saber que raio de indústria é esta que consegue pagar 55 mil contos a cada jogador de prémio. Penso que é tudo muito estranho."

Cláudio Ramos in TV Mais

Olha-se para ele e vê-se logo que ele sabe do que fala. Este gaj... esta pessoa transpira futebol. Vê-se que domina perfeitamente o tema.

Wednesday, June 21, 2006

Desculpe, não percebi...

"Como leitor prestável, sugiro até um tópico de reflexão: que bem que a selecção se dá sempre que começa um jogo sem benfiquistas no onze titular. Vide Irão'2006..."

Bulhão Pato, num comentário escarninho, depois do 2 a 0 sobre o Irão e antes do 2 a 1 sobre o México (com Petit, Simão - 1 golo - e Amélinha - este como suplente utilizado - na equipa).

Eu sei, Bulhão, eu sei: o México não é uma Angola ou um Irão... Mas até é uma equipazinha razoável. Mas, pronto. A reflexão está feita. Feliz agora?

Monday, June 12, 2006

O Nacional-Ronaldismo


ou

um desabafo desolado sobre o advento do Futebol-Pimba


Tudo começou com bandeirinhas nas janelas, acho eu. Uma ideia triste, mas, ainda assim, tolerável. Hoje em dia disputa-se a paternidade do rasgo, com o professor Marcelo enchendo o peito "fui eu que sugeri" e o sargentão Felipão a não lhe ligar nenhuma mas, pelo sim, pelo não, a acrescentar "eu queria pedir novamente"... E as bandeiras lá estão, agora em menor número. Mesmo assim nas lojas dos chineses diz que tem sido uma azáfama.
A verdade é que dantes o futebol era tratado com desdém e menosprezo, fruto talvez da incompreensão de donas de casa ignorantes e intelectuais meio analfabetos com traumas acumulados nas aulas de educação física - enfim, por gente que tem que pôr as culpas de uma coisa qualquer em qualquer coisa e que anda sempre a dizer "por isto é que este país está como está" e uma pessoa fica a pensar "e está como?" e se se pergunta não nos sabem responder, só sabem que a culpa "é deles" ou "do governo" ou, em último caso, "é do futebol". Dá para fazer variações com: "da juventude", na época das manifestações dos estudantes, queimas das fitas e praxes académicas; "dos drogados", durante a época dos festivais de verão; "da América", em qualquer altura em que a culpa não seja "dos comunistas"; e "dos imigrantes" (ou, em casos específicos, "dos pretos", "dos brasileiros" e "desses do leste"). Mas nas épocas em que o futebol estava na ordem do dia - como acontecia, por exemplo, quando se disputava um campeonato do Mundo -, a culpa era, evidentemente, "do futebol".
Ora, eu disse que isto começou com a treta das bandeirinhas mas isso não é bem assim. A raiz do mal está enterrada mais lá no fundo. Eu acho que isto começou tudo com aquela história da "geração de ouro". Ou seja, a culpa é dos putos que ganharam em Riade. A estes juntaram-se os outros que, dois anos mais tarde, repetiram a façanha em Lisboa. E isto dá que há alguns que são duplamente culpados, porque acumularam. Como não podia deixar de ser, João Vieira Pinto é um deles - onde quer que haja asneira, JVP está associado (Nota do Redactor: tirando aquela noite em Maio de 1994 e, concedo, o talento demonstrado na manobra com a Marisa Cruz). Porém, retroceder tanto seria praticamente rememorar toda a história recente do futebol tuga. E a gente aqui não quer isso. Isto é o Dianabol, caramba! Aqui a gente sabe a história do tugabol de trás para a frente e, quando, por lapso, não sabe, dá-se um jeito, mete-se uma cunha, uma "mão de deus", uma "mão de Vata", um calcanhar de Madjer, um dedo de Major... Já estou a desconversar. Íamos na origem deste fenómeno. Que fenómeno? O futebol-pimba, obviamente.
Dizia eu que dantes o futebol era tratado aos pontapés. Digo-o apenas para obter um trocadilho pobre e sem qualquer espécie de brilho ou talento, enfim. Mas, no fundo, tenho razão. Quem gostava de bola era visto como um bronco. Nessa altura, quem era do Sportém não andava aí de peito inchado a dizer que "somos diferentes, somos um clube diferente", armado em snob. Quem era do Sportém tinha tanta vergonha de o dizer ao pé de gente com grau académico como ainda hoje Soares Franco tem vergonha de o afirmar quando não está com o grau alcoólico. Gostar de bola era visto como uma atitude mental menor. Os intelectuais que degustavam o belo-desporto faziam-no com um certo pudor de "porque aquilo até é giro e tal" - ignorando, por exemplo, que um dos nossos maiores intelectuais era um fervoroso adepto do football de então... falo de Pessoa, claro (é preciso explicar porque também tenho leitores do folcuporto). De resto, o futebol era visto como uma coisa muito popularucha, muito minis e tremoços, muito grunhos aos gritos e 22 parvos a correr atrás de uma bola.
Ao contrário do que possa pensar-se, esta era a melhor forma de elitizar o futebol. Mais: de proteger o futebol. Deste modo, ia à bola quem gostava de bola e só porque gostava de bola. Convinha até que percebesse minimamente do assunto, que soubesse as regras elementares do jogo, o nome dos jogadores, as tácticas que se usavam e quem as ditava. Embora fosse o mais popular dos desportos, o futebol era obrigado a construir-se enquanto fenómeno de massas com o fervor e a sabedoria dos adeptos verdadeiros - isto precisamente porque existia o outro lado da barricada que odiava (temia? não percebia? gostava em segredo? era do Belenenses? riscar o que não interessa) o futebol e tudo quanto lhe estivesse associado.
O que acontece, o que tristemente acontece, é que essa muralha divisória entre o pró e o anti-futebol caiu. Assim mesmo. Já não existem duas fileiras opostas em relação a um mesmo fenómeno. Existe apenas uma massa difícil de qualificar, com características seguramente distintas de indivíduo para indivíduo, até de tribo para tribo, mas com uma atitude comum perante o desporto Rei: este é, no mínimo, "muito giro". Ouve-se, a toda a hora, gente temível - do copinho de leite sem jeito nem para andar à acamada de 180 quilos que aparece no Portugal no Coração, passando pelo primeiro-ministro que, perdoem-me a expressão, tem é ar de coninhas e continuando no presidente da Comissão Europeia que tem tanto jeito para chutar uma bola como eu para calcetaria ou ainda da Dália Madruga que tem um Q.I. equivalente ao de duas cebolas, uma picada e outra pequenina, ao muito repetente professor Marcelo, não esquecendo os já habituées Jorges Gabriéis e Antónios Pedros-Vasconcéis, para não falar nas cartas da Maya (e esta até é das melhorzinhas), das tiradas das Fátimas Lopes, à peixeira do Bulhão ou à florista da Ribeira - dizia eu que toda esta populaça indescritível diz, no mínimo, "ai, eu adoro futebol". E isto mete-me um certo nojo. E, logo a seguir, acrescentam "gosto muito do Cristiano Ronaldo". E depois o jornalista pergunta "então e quem é que vai marcar os golos hoje?" e eles "é o Cristiano Ronaldo" e o jornalista "e quantos é que fica?" e eles "fica cinco a zero" e o jornalista "e quem é que marca para além do Ronaldo?" e eles "err..." e depois riem-se, atrapalhados, porque não sabem o nome de mais nenhum. Já ouviram falar do Figo "aquele que é do Madride, não é?", mas, tirando esse, só sabem o nome do Mourinho "mas esse é treinador, não é?". É, essa acertaram.
Isto até podia não ter mal nenhum. Afinal, também ninguém percebe de política e toda gente nutre ódios e amores por políticos e vai às eleições como se fosse às assembleias gerais para alienar património imobiliário e aos comícios como se fosse ao estádio. Mas acontece que tem mal, sim. Porque suja. O futebol fica encardido. Liga-se a TV e temos três programas simultâneos com a Nicole a cantar músicas à selecção, com o Roberto Leal a cantar o hino nacional, vestido de branco e com sotaque, sei lá, da Covilhã, talvez, o Nuno Graciano a fazer palhaçadas, a Merche Romero a andar para um lado e para o outro e a aparecer na televisão. São velhos e novos, gordos e magros, a maioria deles mal vestidos ou, pior ainda, vestidos de bandeira nacional, agitando-se com o futebol como se algum dia tivessem percebido o fenómeno, como se alguma vez tivessem sentido as entranhas em sobressalto porque só faltam dois dias para um derby, como se alguma vez tivessem chorado uma derrota ou uma vitória juntamente com mais 50 ou 60 mil irmãos num estádio de futebol. Esta gente que come o futebol com os olhos da mesma maneira que come cheeseburgueres no McDonald's, esta gente que compra bandeirinhas como se comprasse verniz para as unhas ou detergente para a máquina, esta gente que quer aparecer na televisão no meio da outra gente igual a ela, a fazer de emplastro a amar, seguramente, muito menos o futebol do que o emplastro ama, esta gente é poluição futeboleira. Gostam é de arraiais e cores e sítios onde vendam a cerveja em copo de plástico, onde toda a gente grite sem saber muito bem porquê, onde haja música pimba aos gritos num altifalante escusadamente próximo. O tuga typical, que tudo destrói, que tudo corrói, é um bicho que se introduziu no futebol. E agora uma pessoa se tem o azar de deixar escapar publicamente que "este Ronaldo é um merdas que só joga para o próprio umbigo" está sujeita a ser excomungada, linchada, violada e, no fim de tudo, enxovalhada porque a turba nacional-ronaldista está aí para governar. Com mão de ferro. Viva o futebol pimba...

Friday, June 09, 2006

Euforia

Qualquer coisa não bate certo: os comentadores dizem para o povo não entrar em euforias; os jogadores pedem contenção e nada de euforias por parte dos adeptos; Scolari diz que é preciso não embandeirar em arco e que a euforia não deve toldar o entendimento da torcida. Eu, por mim, apenas me espanto: os únicos que vejam eufóricos são precisamente os comentadores nas suas enxurradas de disparates, os jogadores nas suas noitadas irresponsáveis e o próprio Scolari que, debaixo dos seus pedidos de contenção à torcida, me parece demasiado confiante. De resto, não conheço um único português que espere mais do que uma singela e discreta presença nos oitavos-de-final da competição. E até nem são muitos os que acreditam na passagem às eliminatórias - se acreditam, é por ser quase impossível ser eliminado num grupo tão fraco.
Achei que devia dizer isto porque está quase a começar a bola e fica sempre bem uma pessoa dizer qualquer coisa. Dá a impressão que percebe do assunto. Se o professor Marcelo pode falar de bola, então eu também posso.